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O trânsito no Porto está em estado crítico. A imagem não peca por exagero, tem sido objeto de debate intenso nos fóruns locais e é seguramente subscrita por qualquer pessoa que habite ou se desloque diariamente na cidade. Mais do que uma perceção empírica, no entanto, os números disponíveis ajudam a demonstrá-lo. Dois exemplos muito concretos: no sublanço da A3, entre a VCI e Águas Santas, a maior média de circulação deste ano foi registada em maio (144 579 veículos) e supera, em mais de cinco mil carros por dia, o pico de 2019. Outro troço crítico, o da A1, que atravessa a Ponte da Arrábida, apresenta valores que são basicamente sobreponíveis aos registados no período pré-pandemia.
Há, portanto, mais automóveis a circular, a que se somam outros fatores que contribuem para estrangular o tráfego rodoviário. Um deles ficou bem explícito na reportagem do JN da passada segunda-feira: em 10 anos, o número de condicionamentos de via por motivos de obras - públicas ou particulares - aumentou cinco vezes. Nesta matéria, é inevitável olhar para as obras da Metro do Porto como um problema suplementar, dada o atraso já significativo que se verificam nas duas principais empreitadas na cidade, a Linha Rosa e o metrobus na Boavista.
É, portanto, uma evidência, constatar que a rede viária está estrangulada. A VCI, apontada como a raiz de todos os problemas, é, na verdade, a consequência de um somatório de causas que tardam em ser atacadas e cujas soluções estão, há muito, identificadas. Uma delas, como já referi neste espaço, passa por diminuir gradualmente o atravessamento da cidade por pesados, transferindo-os para as autoestradas circulares, A32 e A41. Tal só acontecerá, no entanto, quando o preço das portagens for suficientemente competitivo e dissuasor do recurso à VCI.
Por outro lado, numa lógica de mobilidade mais alargada, o investimento no transporte público é imprescindível e o único caminho para diminuir o peso do automóvel particular. E se o metro coloca problemas conjunturais devido às obras, também oferece a solução estrutural nesta matéria e é fator-chave para um Porto transitável. Assim, é fundamental que as partes envolvidas dialoguem e que o bom senso impere. Para que não se perca tempo, nem oportunidades que a região não dispensa.