A hierarquia católica apela à participação dos leigos na vida da Igreja. Mas quando eles se organizam, refletem e fazem propostas que fogem ao seu controlo, começa a olhá-los com desconfiança e procura domesticá-los. Ou, então, ignora-os.
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No contexto do escândalo do abuso sexual de menores, no Chile, foi criada a Rede Nacional de Leigas e Leigos. Quis constituir-se como um espaço de diálogo e de reflexão para ajudar a Igreja chilena a superar a situação com propostas criativas que reacendessem a esperança dos fiéis.
Em dezembro do ano passado, uma delegação desse movimento laical foi recebida pelo Papa Francisco. De acordo com a sua página do Facebook, manifestaram-lhe, entre outros assuntos, "preocupação com a lentidão da renovação da Conferência Episcopal Chilena" e a diminuta participação dos leigos, nomeadamente mulheres, na tomada das decisões.
A sua delegação da capital, Santiago do Chile, reivindica para os leigos uma maior participação na nomeação do próximo arcebispo. O atual, como determina a lei da Igreja, já terá pedido a resignação, pois ultrapassou os 75 anos.
Para dinamizar o processo de reflexão sobre as características do seu futuro pastor, elaborou um questionário que poderá ser respondido online. Esta iniciativa inspira-se na perspetiva sinodal da Igreja dimanada do Concílio Vaticano II e propiciada pelo Papa. Nesta perspetiva, os leigos "são protagonistas da Igreja e do Mundo de hoje, a quem os pastores são chamados a servir". Esta dignidade é-lhes conferida pelo batismo.
Uma Igreja que se quer sinodal tem de envolver necessariamente os leigos. A participação destes não pode reduzir-se a engrossar as assembleias dominicais. A sua voz deve ser ouvida nas decisões a tomar, como a escolha dos bispos. Neste caso, aceita-se que não só, mas deseja-se que também.
*Padre