Corpo do artigo
O caso do português que publicou um vídeo onde oferecia 500 euros a quem lhe entregasse a "cabeça de um brasileiro" não representa apenas a escalada xenófoba que contamina o debate público. É a prova de que as redes sociais são incapazes de combater o discurso de ódio. Incapazes e cúmplices. O pasteleiro, que acabou por ser detido e a responder à Justiça por apologia à violência, só foi travado porque, conforme explica a própria Polícia, provocou "forte alarme social" e mobilizou a opinião pública, resultando em várias denúncias. Ou seja, o vídeo viral só foi travado por intervenção do Ministério Público e não por ação das plataformas que o acolheram. O vídeo em questão circulou durante horas. O algoritmo, que nos retém, nos vicia e nos molda, amplificou o conteúdo. A passividade das plataformas não é, portanto, apenas uma falha técnica. É um posicionamento estratégico. É neste contexto que ganham peso as palavras da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, que, na quarta-feira, comparou as redes sociais ao tabaco, ao álcool e à pornografia. "Na minha época, nós ensinávamos os nossos filhos que não podiam fumar, beber e assistir a conteúdo adulto antes de uma certa idade. Acredito que chegou a hora de considerarmos fazer o mesmo em relação às redes sociais", disse no discurso anual sobre o Estado da União, onde admitiu proibir as redes sociais na UE a menores de 16 anos. Vários países seguem o mesmo pensamento. A Austrália já legislou nesse sentido. Em geral, a opinião pública concorda. Pena é que pais e eleitores abdiquem de decidir o que é melhor para os seus filhos, entregando aos governos uma responsabilidade que deveria ser sua.