Porque diminuíram os candidatos ao Ensino Superior?
Tivemos este ano uma quebra abrupta no número de candidatos ao Ensino Superior. Alterações abruptas não são explicáveis por tendências longas, como a demografia, ou por fatores persistentes, como as dificuldades económicas e de habitação, os défices da ação social e de residências, ou a qualidade ou o tipo de oferta formativa. Uma quebra abrupta explica-se por alterações significativas em variáveis de contexto. Ora, a provável grande alteração de contexto com impacto significativo foi a introdução de três exames como condição para concluir o secundário (português e duas disciplinas à escolha do aluno). É preciso saber o que se passou com os exames do secundário.
O potencial de candidatos ao superior pode estimar-se com base no número de alunos inscritos para o exame de português (83 000), ou no dos que realizaram a prova (77 000) ou nos que tiveram nela aprovação (63 000). Deste potencial, apenas cerca de 50 000 se candidataram. A comparação com os exames de 2024 diz-nos ainda que, em 2025, aumentou muito o número de reprovações em todas as disciplinas, com exceção do português e da biologia e geologia. Diz-nos, também, que baixaram muito as notas em 10 dos 12 exames realizados pelo maior número de alunos.
Há vários indícios de que a quebra de candidatos se deve ao facto de milhares de alunos terem ficado retidos no Secundário porque ou não o concluíram, ou não conseguiram notas positivas em dois dos três exames que realizaram para se candidatar ao Superior. Devia procurar saber-se, o mais urgentemente possível, quantos ao certo ficaram retidos para se poderem definir medidas de recuperação, a desenvolver tanto pelas escolas secundárias como pelas instituições de Ensino Superior. Na minha opinião este é que é o verdadeiro problema: onde estão estes jovens? No grupo dos que nem estudam nem trabalham?
Se o problema está na conclusão do Secundário, é preciso recordar que os jovens que entram agora no superior concluíram o básico (8.° e 9.°) nos anos da covid e fizeram todo o percurso escolar sem exames. Têm défices de aprendizagem não superados no Ensino Secundário? Temos de olhar para este problema para definir as medidas de recuperação adequadas: não podemos desistir destes jovens.
Uma nota final: a quebra de candidatos colocados teve impacto desigual nas instituições de Ensino Superior e nas regiões. É por isso necessário olhar para a oferta de Ensino Superior e, eventualmente, proceder a alguma reforma neste domínio. Uma reforma não é uma liquidação: o país precisa de mais formação e não de menos, e precisa de uma malha territorial alargada e qualificada.

