Porque Lula não renega Putin
A extrema-direita promete uma "peixeirada" na cerimónia de boas-vindas que o Parlamento português dedica ao presidente do Brasil no Dia da Liberdade, mas será que as declarações de Lula sobre a guerra da Europa são assim tão graves?
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Lula foi à China, falou da Ucrânia e da Rússia. Não condenou a invasão de Putin como a Europa queria e promete trazer ainda mais polémica para a cimeira Portugal-Brasil que esta sexta-feira se inicia
Para tristeza dos incondicionais, de um lado e de outro, do Chega ou do Bloco, em uma coisa Lula e Bolsonaro convergem: na falta de censura a Putin.
É verdade que "as nações não têm amigos, apenas interesses"; e que a necessidade opera milagres. Mas será que os fertilizantes, de que o Brasil tanto depende, explicam tudo? Explica.
Por conta dos fertilizantes, que o Brasil recentemente deixou de produzir, a dependência do estrangeiro é quase total. Aqui o Brasil depende de Putin, e dos "amigos" China e Bielorrússia, em mais de 40% das suas necessidades.
Moscovo é o sexto fornecedor geral de Brasília (7,9 milhões USD) - por conta dos adubos; mas o Brasil pouco exporta para lá. A Rússia é apenas 33.o colocado nos destinos do comércio externo brasileiro, muito atrás de países bem menores, como por exemplo Portugal, que hoje ocupa um inédito 17.o lugar. Este desequilíbrio obriga a manter a boca mais fechada.
O que é mais importante concluir do que Lula diz não tem a ver com a guerra na Ucrânia, que é muito mais grave para europeus do que para quaisquer outras nações.
O que importa é ter presente que o Brasil está de volta à cena internacional, deixando claro que vai vestir a roupa que melhor serve os seus interesses de potência global, independentemente de amizades ou ideologias.
Neste caso, é outra vez a economia, estúpido!
*Presidente da Associação Portugal Brasil 200 anos