Criar empregos é das coisas mais difíceis que há. Foi nisto que andei a pensar enquanto andei por Manchester estes dias e fazia a mim mesmo esta pergunta: por que se investe tanto aqui? Estamos no meio de uma ilha, portanto não foi o turismo de praia ou montanha; também não foi o bom tempo; não vive aqui muita gente - Manchester tem meio milhão de habitantes, ou seja, se juntarmos Porto, Gaia e Matosinhos até temos mais gente na capital do Norte. Porquê?
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Olha-se para o miolo da cidade e, apesar da crise europeia, estão em acabamento pelo menos três gigantescos edifícios de escritórios associados a centros comerciais. Além disso, a 15 minutos do centro, deparámo-nos com uma brutal "Media City" onde está a BBC e outros canais de televisão e rádio, para além de espetaculares estúdios de cinema. Em redor, habitação topo de gama, lojas e um interessante museu sobre as grandes guerras mundiais. Do outro lado do rio, o mítico estádio Old Trafford, do United. A mobilidade faz-se através de metro de superfície, comboios e 'bus'. Uma coisa bem pensada e melhor concretizada.
Manchester é provavelmente a cidade mais importante do Mundo quanto a investimento em futebol. Se é verdade que Madrid e Barcelona têm equipas extraordinárias, são cidades consolidadas que não 'vivem' do prestígio dos clubes. Já Manchester tem hoje dois clubes a disputar o título e equipas multimilionárias suportadas por investidores à escala global que não estão nisto apenas por motivos filantrópicos: estão a projetar as marcas (e a cidade) mundialmente, arrastando com isso receitas de merchandising e direitos televisivos que revertem a favor do "business" e turismo de toda a cidade. Exatamente por isso será inaugurado nesta Primavera um enorme "Museu Nacional do Futebol", no centro da cidade, apesar de existir o muito concorrido museu do Manchester United por baixo do estádio do clube.
Repare-se: o que é exatamente o futebol? Uma indústria cujo "know-how" europeu concorre do ponto de vista televisivo com o poder dos filmes e séries norte-americanos nas horas de maior audiência (prime-time). A Europa tem aqui uma "galinha dos ovos de ouro" que os ingleses de há muito estão a saber aproveitar no mercado asiático. Manchester, em particular, está a criar esta marca - a cidade do futebol - a partir dos títulos do United e talvez agora também do City (movido a petrodólares). O Manchester United, apesar da brutal crise europeia, obteve dos melhores resultados financeiros de sempre.
Estas questões são essenciais para reinventarmos o 'Porto'. E a primeira, a mais importante de todas, é a de que não há cidades eficientes e capazes de atrair investimento sem bons transportes públicos. Aliás, a principal referência que temos da Europa é essa produtividade e qualidade de vida gerada pelos metros, comboios e interfaces que tornam a ligação vida/trabalho fluida e menos stressante. Por isso é tão essencial pedir ao Governo que faça pelo Norte uma das poucas coisas que a iniciativa privada não pode fazer sozinha: obter os apoios comunitários para completar a rede de metro e garantir que as linhas suburbanas e regionais de caminhos de ferro não são esquecidas para sempre.
Apar disto, a reabilitação do centro do Porto. O Estado tem de pagar o que deve à Sociedade de Reabilitação Urbana e gerar estímulos ao investimento - como Rui Moreira e Alberto Castro têm defendido. A par disto vender melhor o "Norte da ciência" (Aveiro-Porto-Braga-Vila Real), o estupendo cluster de médicos, universidades e hospitais da região, o cluster jurídico (temos advogados a fazer, por exemplo, os contratos dos grandes jogadores e treinadores de futebol do Mundo...), as referências mundiais na arquitetura, a engenharia inovadora, a História, a natureza, o vinho... e o futebol. O "Porto" enquanto marca do Norte. Acreditar. Projetar isto em filmes e média com o cluster criativo do Norte que se está a formar. E exigir o respeito e apoio do Governo à única região que traz dinheiro novo para o país, como Jorge Fiel escreveu na terça.
Olho para Manchester e parece possível repetirmos isto. Tem de ser possível.