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Na passada quinta-feira, o jornal espanhol "ABC", a propósito dos incêndios em Portugal, escrevia o seguinte: "enquanto os portugueses estão a sofrer na carne (os efeitos dos fogos), o primeiro-ministro António Costa limita-se a emitir vacuidades sobre o assunto, o que exaspera o mais tranquilo dos cidadãos. Por exemplo, afirmou que "é o momento de corrigir algumas falhas estruturais". Mas disse mais, entretanto. Que havia "mãozinha" (sic) humana - de vaca com certeza não seria - por detrás dos incêndios, andando a passear a referida vacuidade por aqui e ali sem quaisquer outras consequências que não fosse o esgotamento em si mesma desta absurda retórica. Tenho escrito, e repito, que este é o pior dos três governos de António Costa. Lamentavelmente secundado por uma maioria absoluta de eunucos político-partidários no Parlamento, salvo não mais que uma mão não inteiramente decepada deles. Começa a ser difícil, para não dizer ridículo, Costa escudar-se em "problemas estruturais" quando já é Governo há praticamente sete anos. Ou quando, na encarnação ministerial dos cómicos Capoulas e Cabrita, se anunciou, respectivamente, a maior reforma florestal desde os idos de D. Dinis - o que incluía o recrutamento de cabras sapadoras para a Protecção Civil colocar por esses vales e montanhas - e se implantou o extraordinário "sistema" das golas anti-incêndio que agora anda em tribunal por alegadas vigarices. À cabeça delas, aliás, aparecem um antigo secretário de Estado, um tal de Neves, e um general aposentado que chegou a chefiar a GNR e a Protecção Civil nessa altura, Mourato Nunes, uma absoluta nulidade que Costa se lembrou de recuperar de quando o conheceu enquanto MAI de Sócrates. Depois há aquela senhora alçada a secretária de Estado, Patrícia Gaspar, completamente azougada, que no meio da tragédia registou para a posteridade esta eloquente conclusão: "percebemos que tínhamos um barril de pólvora em mãos". Só agora é que percebeu, vinda da Protecção Civil e dos governos anteriores de Costa que a promoveram? E Marcelo? Parecia um meteorologista, com declarações estapafúrdias sobre o calor, os ventos e as humidades, e a colocar, como sempre, a mãozinha presidencial debaixo do rabo destes governantes improváveis. Parafraseando Michel Houellebecq, em "Aniquilação", só uma força moral fora do comum permite a alguém extrair-se deste tempo e, sobretudo, ignorar esta gente que nos pastoreia como se fôssemos todos parvos. Foi, e é, o caso das populações do interior, que, ano após ano, vêem as chamas devorar implacavelmente os seus bens e os poderes engolirem, sem vergonha alguma, as promessas do "agora é que é" com novos movimentos de boca. Porque não se calam?
Jurista
o autor escreve segundo a antiga ortografia