Não chegava o eterno centralismo nacional no que toca a decisões, investimentos e razões para tudo fazer pertinho e sob o controlo apertado do Terreiro do Paço e eis que nos cai agora em cima a insuportável arrogância moral dos dois maiores partidos políticos nacionais.
Corpo do artigo
PS e PSD, pela calada do verão, e pelos vistos sem reação por parte do presidente da República, tornaram quase impossível a candidatura de grupos de cidadãos eleitores às autarquias.
A primeira pergunta que se coloca é a seguinte: quem é que, de boa-fé, faz uma alteração desta magnitude às regras de uma eleição a menos de um ano do início da respetiva campanha? Num ano cuja cobertura noticiosa se concentrava, como hoje, na progressão e impactos da covid-19?
A mesma falta de boa-fé justifica o emaranhado de obrigações a que a lei passou a sujeitar os candidatos independentes. Para criar um partido político são necessárias 7500 assinaturas. Para concorrer a uma Câmara e à respetiva Assembleia Municipal, 8000. Um partido político apresenta uma lista com um líder, um nome e um símbolo e ambos, líder e imagem, servem para dar cobertura, formar uma equipa entre todos os candidatos da Câmara à Assembleia de Freguesia, passando, naturalmente, pelas juntas.
Se um independente tiver a suprema lata de se candidatar, então as listas têm de ser diferentes para todos as funções e nunca o líder do Movimento mais o respetivo símbolo e nome podem dar cobertura às juntas ou assembleias de freguesia.
Rui Moreira, no Porto, abriu caminho para uma nova experiência de governo autárquico. Teve claramente sucesso e seguidores. Foram já 17 as câmaras que em 2017 foram entregues a grupos de cidadão independentes.
Que os vetustos diretórios do PS e do PSD tentem desta forma reconduzir as ovelhas ao redil é insultuoso e provavelmente contraproducente. Até porque se os independentes tiverem de criar um partido chapéu que evite os obstáculos agora criados, estaremos a inquinar a própria ignição deste novo veículo da nossa democracia. Obrigar as ovelhas a disfarçarem-se de lobos nunca foi uma boa fábula.
Analista financeira