Miguel Relvas, Vítor Gaspar e Paulo Portas não eram uns ministros quaisquer. Relvas foi o homem que entregou o poder a Passos. Gaspar foi o homem que deu corpo à austeridade que Passos elegeu como dogma. Portas foi o homem que deu a Passos a maioria política essencial para governar o país. Os três pilares deste Governo caíram. O Governo desmoronou-se. Passos mantém-se agarrado a uma ilusão.
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Esta coligação e este Governo podem até resistir mais umas semanas. Podem, por absurdo, resistir mais uns meses. Mas já não será uma verdadeira coligação, nem um verdadeiro Governo, apenas um conjunto de pessoas, nuns casos desorientadas e amedrontadas com a subida dos juros da dívida ou a queda da bolsa, noutros casos agarradas ao poder pelo poder, como o iluminado que os lidera deixou claro. Não se demite porque quer "colher os frutos" do que semeou. Não terá Passos a noção de que quem semeou ventos não pode senão colher tempestades?
Que autoridade terá um Governo minado pelos conflitos internos, pela falta de credibilidade e até pelo desprezo da opinião pública, para fazer uma reforma do Estado? Ou seja, que autoridade terá para impor milhares de despedimentos aos funcionários públicos? Que autoridade terá para impor um empobrecimento aos pensionistas? Que autoridade terá para impor um Orçamento do Estado com cortes de milhares de milhões no Estado social? Ou seja, que autoridade terá perante os portugueses que dependem do Serviço Nacional de Saúde? Que autoridade terá perante os portugueses com filhos na escola pública?
As perguntas são retóricas. Os portugueses nunca partilharam com Passos, Relvas, Gaspar e Portas o sonho de trabalhar cada vez mais horas, por cada vez menos dinheiro. Os portugueses nunca partilharam com Passos, Relvas, Gaspar e Portas o sonho de pagar cada vez mais impostos e, em contrapartida, terem cada vez menos saúde, cada vez menos educação, cada vez menos proteção social.
Mas, para lá das angústias dos portugueses, foram os três mosqueteiros de Passos que escreveram os melhores epitáfios deste Governo. Relvas, quando tratou de vincar o caminho "solitário" que trilhou para levar Passos e o PSD ao poder, deixando implícito que, sem ele, o sonho se desvaneceria. Gaspar, ao reconhecer o falhanço das suas políticas e os efeitos "muito graves" no desemprego. Portas, quando expôs dois anos de decisões autistas do primeiro--ministro que tornavam "dispensável" o seu contributo.
Quando o homem que entrega a chave do poder fecha a porta com estrondo; quando o homem que garante a doutrina fecha a porta com estrondo; quando o homem que assegura a estabilidade política fecha a porta com estrondo, mesmo que depois a reabra, o que sobra? Sobra um náufrago rodeado de destroços. Incluindo um destroço chamado Paulo Portas disfarçado de boia de salvação.