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O presidente do CDS/PP "simpatiza" com uma putativa candidatura de Rui Moreira à Câmara do Porto por ver nela "um movimento que nasce na sociedade civil". Quer dizer: que é capaz de, quem sabe?, entrar com mais facilidade no eleitorado que execra os políticos de carreira. Mas Paulo Portas também aprecia a putativa candidatura do presidente da Associação Comercial do Porto (ACP) por ver nela uma espécie de extensão do trabalho deixado por Rui Rio. Diz Portas: o movimento, digamos assim, encabeçado por Rui Moreira "reconhece o esforço que Rui Rio fez na cidade, não quer voltar para trás e acrescenta-lhe uma visão dinâmica, moderna e competitiva".
O olhar de Portas merece atenção, porque contém certezas e imprudências. A certeza é: o CDS/PP não vai coligar-se com o PSD no Porto, logo Menezes vai sozinho às eleições. A eventual candidatura de Rui Moreira está nos antípodas da candidatura do autarca de Gaia, pelo que, simpatizando com a primeira, Portas não pode simpatizar com a segunda. Os responsáveis das distritais do Porto do PSD e PP já não têm mais assunto para conversa.
Este facto cria um problema a Menezes? Assim-assim: no caso de Moreira avançar, alguma votação à Direita escapar-lhe-á; se Moreira não avançar, o voto CDS cairá naturalmente para o lado de Menezes, mesmo que Portas repita até à exaustão a sua antipatia por ele.
A declaração de Portas abre, por outro lado, um problema ao seu próprio partido. Se o presidente da ACP ficar sossegado no seu cantinho, o PP não apresenta candidato ao Porto? Ou apresenta um figura menor, arriscando-se a desaparecer do mapa eleitoral autárquico do concelho?
A parte mais curiosa da declaração de simpatia de Paulo Portas é, contudo, aquela em que aplaude o esforço contabilístico feito por Rio, por oposição, claro, ao que considera ser o esbanjamento feito por Menezes em Gaia. O líder do PP entende que manter as contas em dia deve continuar a ser uma prioridade, mas é necessário acrescentar a tal desiderato "uma visão dinâmica, moderna e competitiva".
Quer dizer: aos olhos de Portas, 12 anos não chegaram a Rui Rio para incutir no concelho um laivozinho de dinâmica, outro de modernidade e, por fim, um laivo um bocadinho maior de competitividade. Digamos que das palavras do líder centrista não brota propriamente um balanço famoso da gestão feita por uma equipa que também teve elementos afetos ao CDS/PP.
É de um lapso de linguagem? Portas não é dos que se deixam atraiçoar pelas emoções, pelo que outro motivo haverá para o líder centrista avaliar com tão baixa nota a prestação de Rio ao fim de 12 anos. Sim, porque uma cidade sem dinâmica, modernidade e competitividade é uma cidade votada à desgraça. Com amigos destes Rui Rio não precisa de colecionar mais inimigos...