Este é o título do novo livro do professor Hélder Pacheco. Escrevo no domingo à noite, véspera do dia em que o livro será publicamente apresentado.
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Gosto há muitos anos dos livros de Hélder Pacheco. Nenhum outro autor me consegue transportar a um certo Porto dos anos 40 a 60.
A osmose entre o autor e a cidade fazem de cada narrativa, não uma mera descrição, mas uma reapresentação do espaço, das suas personagens e, sobretudo, das suas histórias. De olhos fechados, mas a três dimensões.
Sente-se o quente dos muros das Fontainhas, o sentido comunitário das ilhas - contra cuja verticalização tanto e sempre se bateu - veem-se as paredes brancas das fábricas, ouve-se a saída dos operários a toque de sirene, cheira-se o bulício do Bulhão, foge-se do alho-porro e do martelo a cada noite de S. João. Entre o movimento e a sinestesia.
A escrita de Hélder Pacheco não é o resultado intelectual de uma progressiva depuração de conceitos.
É, antes, o imperativo de um orgulho incontido que se desprende de milhares de recortes, papelinhos, gravações, fotos, pesquisas, lembranças, apontamentos, pequenos e grandes objetos, tudo recolhido pelo Porto, do Porto e sobre o Porto.
Certa vez tive a honra de lhe apresentar um livro. "Porto. Da cidade inventada". Escrevi um texto de que o professor Hélder Pacheco gostou e publicou no "Diário de Notícias" - e lembro-me do calor afetuoso da audiência na Fundação Eugénio de Almeida em sessão animada pelo Rancho Folclórico do Porto.
Mas o que mais recentemente me espantou foi o fantástico otimismo com que vê o Porto de hoje.
Num jantar, em que coincidimos, o professor explicou-nos, em tom sereno, que o Porto está bem como nunca esteve, que o turismo e a reabilitação urbana associada são uma fantástica oportunidade e que as dificuldades em não submergir a alma portuense em tudo isto não é mais do que um desafio que superaremos.
Percebo agora que é disso que nos fala no seu novo livro "Porto: da cidade" com a alegria de quem assume: "Passo em ruas que estavam a cair e vejo-as agora como novas. Sítios que nunca pensei ver renovados". Com a lucidez de quem tem memória. Com a nobreza de quem valoriza o esforço que tantos fizeram para chegarmos até aqui.
Bem-haja!
*Analista financeira