<p>O aeroporto Francisco Sá Carneiro (ASC), decerto o mais importante instrumento de desenvolvimento regional do Norte, está, a prazo, ameaçado de morte. Dotada hoje de condições únicas, esta infra-estrutura está bem e recomenda-se. Dispõe de serviços de elevadíssima qualidade, tendo sido até considerado o terceiro melhor aeroporto da Europa. Com cerca de quatro milhões e meio de passageiros por ano, poderá a muito breve trecho melhorar as suas condições operacionais e atingir números de 12 ou até de 15 milhões, o triplo da sua capacidade actual. O potencial de crescimento decorre desde logo da sua área de influência, estimada em cerca de 4,5 milhões de pessoas, que é superior em mais de um milhão à área equivalente do aeroporto de Lisboa. Quem diria! </p>
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Mas, mais do que as vantagens comparativas no negócio aeroportuário, importam as oportunidades que o ASC apresenta para a região. Tem um enorme potencial de captação de turistas, nomeadamente dos clientes das companhias de low-cost. Poderia constituir o "porto de partida e de chegada" da nossa vasta comunidade emigrante, que apesar de ser, no continente, maioritariamente originária do Norte, tem muitas vezes de embarcar em Lisboa.
Acresce que o Porto tem, a par de Barcelona, condições únicas na Península Ibérica para albergar uma plataforma multimodal de transportes, rodoviária, marítima, ferroviária e aeroportuária. Este nó intermodal poderia gerar milhares de empregos e induzir a criação de empresas de alto valor acrescentado, essenciais numa região que apresenta o menor rendimento per capita (79% da média nacional) e onde a taxa de desemprego é maior.
Mas um futuro sombrio perfila-se no horizonte. A construção do Novo Aeroporto de Lisboa (NAL), em Alcochete, associada à privatização da ANA, irá sacrificar o ASC. Na engenharia financeira desta operação, está previsto que a infra-estrutura do Porto seja subalternizada. Os voos rentáveis serão artificialmente desviados do ASC para o NAL. Além de que as taxas aeroportuárias cobradas no Porto serão aumentadas, pois também estas irão financiar a construção de Alcochete. O resultado será uma drástica diminuição do tráfego e a inversão da tendência positiva ultimamente verificada.
É pois urgente transferir para a esfera regional a propriedade e a gestão do ASC. Só independente, o Aeroporto Sá Carneiro sobreviverá. Integrado na rede nacional da ANA, será apenas uma filial do NAL, um apeadeiro periférico de Alcochete.