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Se o ridículo mata, a vulgaridade corrói. E uma cidade como o Porto, que sempre se pautou pela exigência na ambição de crescer, desenvolvendo-se e renovando-se, precisa, para isso, de qualidade e não de mediocridade.
E começo citando Ramalho que, nas "Farpas", escreveu: "O Porto enfim cessou de ser província. É segunda capital". Infelizmente, a realidade parece demonstrar que, em alguns detalhes, a "província" ainda vive por estas bandas. É assim: determinada empresa tradicional lançou no mercado um seu "produto desenvolvido no âmbito do 10.º aniversário da marca Porto". A inovação tem o nome de "Pastel Porto", "delicado, de massa filo crocante, com recheio de ovos e redução de vinho Calém 10 anos", conforme revela a embalagem, criada expressamente para a sua comercialização que, segundo me disseram, faz sucesso.
Até aqui, perfeito. O busílis reside justamente na embalagem. Dela constam alguns atributos que distinguem o Porto: Ponte Luís I e Ribeira, barco rabelo, Torre dos Clérigos, morros da Sé e da Vitória e, diga-se, um tanto à pressão, a paisagem das vinhas do Douro. Mas tudo bem. O problema é que das imagens constam um carro de bois sem carro, com as pipas carregadas para o lombo dos animais, e um eléctrico, mas de LISBOA! Ignorância ou incompetência, ou o "design" da caixa foi fabricado na capital ou alguém daqui achou que os eléctricos são os mesmos. Por favor, não nos façam regressar "à província". Vão a Massarelos fotografar um eléctrico dos nossos, e, já agora, aprendam o que é um carro de bois. A categoria da marca merece melhor. E Porto é Porto. Ponto.
*O autor escreve segundo a antiga ortografia

