A gestão de uma cidade com 600 mil habitantes é obviamente diferente de outra com metade da população residente. Obviamente que se ganha em sinergias, e, por via delas, em poupanças. Ou seja: através de uma superior coordenação de esforços torna-se possível realizar com maior eficácia tarefas mais complexas como as de transportar, alojar, abastecer, prestar cuidados de saúde ou de educação. E isto poupando em duplicações de funções e entidades publicas, privadas ou mistas que acabam sentadas à mesa do nosso orçamento.
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Do ponto de vista racional, a ideia de unir Porto e Gaia e fazer de ambas uma cidade europeia de média dimensão é boa. E, para além de boa, é fácil de executar: todas as sondagens conhecidas mostram que as populações de ambas as margens do Douro acarinham a ideia, e para além das sinergias nos serviços públicos e de ordenamento do território há um conjunto enorme de pessoas, entidades e empresas cujas vidas correm sobre as pontes que unem as duas cidades de cerca de 300 mil habitantes cada uma. Há imensos estudantes e trabalhadores que laboram na margem direita e dormem na margem esquerda, como há muita gente que frequenta o Arrábida Shopping por todos os motivos, que vão da saúde ao cinema passando pelo supermercado, e reside no Porto.
Mas a ideia de Luís Filipe Menezes também é boa por ser pragmática do ponto de vista político: a fusão Porto-Gaia pode ser inserida facilmente na reforma administrativa lançada pelo ministro adjunto e dos Assuntos Parlamentares, Miguel Relvas. A qual, por mais ajustes que requeira, assenta em dois objetivos compreensíveis e atendíveis: concentrar freguesias e depois municípios para ganhar massa crítica em todos os níveis do Poder Local, qualificando os serviços prestados às populações e poupando dinheiro com a eliminação de duplicações e desperdícios.
Numa primeira fase, haverá gente a reclamar identidades comunitárias improváveis e até a usar em vão o conceito da proximidade para impedir o que se seguirá. Ou seja: o estabelecimento de uma sã concorrência entre as áreas metropolitanas do Porto e Lisboa.
Essa oposição aconteceu com todas as concentrações. Por exemplo: ao tempo do Governo de Sócrates com a rede de maternidades, hoje, consabidamente, uma operação de racionalização com ganhos para a qualificação dos serviços prestados.
A ideia de Porto-Gaia é tão clara e redonda que não deveria oferecer oposição. Mas já sabemos que há a quem aproveite o fado do desgraçadinho e o bloqueamento da regionalização como modo de acumulação de capital de queixa contra todos os governos. Podendo, assim, alguns esconder do povo limitações próprias, incluindo as próprias de uma visão paroquial sobre o que é a vida urbana em rede europeia.