A política é a arte do possível, eu sei. Mas em política deve ser possível sermos frontais e honestos para a honrarmos nos termos em que a cidadania exige e a democracia reclama cada vez com maior clamor de abstenções na história recente dos atos eleitorais.
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Serve isto para dizer que ou andamos todos distraídos e a assobiar para o lado ou o candidato ontem confirmado do PSD à presidência da Câmara do Porto não pode reeditar a coligação que tem em Gaia com o CDS.
A dedução é a única resposta possível ao velho ditado popular que diz que "quem não se sente não é filho de boa gente". Na verdade, Menezes não pode aceitar que o mesmo CDS/Porto, que o trata como clone político de Sócrates, faça parte da sua candidatura ao Porto.
Bastaria a questão da honra e bom nome para sustentar esta irremediável dissolução da coligação PSD/CDS no Porto para as próximas eleições autárquicas, sustentada, aliás, nas inúmeras e vigorosas tomadas de posição de Menezes contra a governação de Sócrates. Posições essas com datas no calendário que precedem longamente os tempos em que todos já cheirávamos o fim da governação socialista e muitos passaram a sentir as costas quentes para bater no primeiro-ministro de então.
Como defendo que em política não pode valer tudo, se Menezes aceitasse o desaforo muito teria de explicar a esta cidade.
Claro que isto levanta um tremendo problema político ao CDS: se Menezes não aceitar coligar-se, quantos outros candidatos não lhe seguirão as pisadas? E em quantos municípios terá o CDS que fazer pela vida eleitoral sozinho?
Estas são questões para os estados-maiores dos dois partidos da coligação governamental. O que é o mesmo que dizer: é uma questão para Lisboa.
Ora, a minha convicção - e a de tantos outros que se preocupam com falta de Poder Político no Porto para influenciar coisas tão decisivas para a economia e a empregabilidade da região como os modelos de gestão do aeroporto Sá Carneiro ou do porto de Leixões ou ainda do centro local de produção da RTP - é a de que o Porto e a região pouco ou nada têm a ganhar com decisões que estão centradas em Lisboa. Não por culpa da nossa lindíssima capital [onde vivi e trabalhei seis dos melhores anos da minha vida] mas porque os estados-maiores dos partidos, das empresas e até da Igreja católica tendem sempre a decidir segundo os interesses que lhes permitem reproduzir as suas condições de existência - e do poder centrado em Lisboa.
Se esse objetivo tiver de passar pela desvalorização e até asfixia de necessidades locais, sejam elas da sociedade ou do partido, já ninguém, entre nós, acredita que vingará a bondade do bem comum.