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Pela primeira vez, que me recorde, o debate sobre o que queremos ou não queremos para o Porto não é deprimente nem fatalista. Por tudo o que aconteceu no último mandato, a agenda para o futuro da cidade mudou. Não se discute a degradação e o abandono da Baixa. Não se trata da revitalização do Bolhão, da modernização do Rosa Mota ou o que fazer ao matadouro. Questões que não são tema porque, em quatro anos, o presidente da Câmara e o seu Executivo resolveram os principais problemas que se agravavam há perto de 40.
A agenda para o Porto centra-se na gestão do crescimento económico, nomeadamente turístico, e na melhor estratégia para consolidar o sucesso que a cidade tem alcançado em diversos domínios. Termos, em 2017, um debate autárquico que é próprio do século em que nos encontrámos é a mais efetiva demonstração do salto qualitativo que demos.
Numa campanha marcada pela transformação que a cidade tem vivido - social, cultural e economicamente -, e por um movimento de abertura ao Mundo (três vezes melhor destino europeu, quase duplicação do volume de passageiros no aeroporto), o que se verifica é um reforço dos traços do seu carácter e uma maior afirmação da identidade portuense. Uma cidade mais dinâmica, mais moderna e cosmopolita que todos os dias se torna mais popular, mais típica e mais autêntica.
A campanha não será emocionante. Fruto do processo conhecido, Manuel Pizarro enfrenta a contradição insanável entre a sua candidatura e afirmações, a este jornal, como "ninguém entenderia se concorresse contra Rui Moreira". Por muito elegante que tente ser, a verdade é que Pizarro debate-se com a impossibilidade de ter um discurso de alternativa. Parece portanto à saciedade que Rui Moreira será reeleito. A questão que se joga nestas eleições é se tem ou não maioria.
PCP e Bloco são, no Porto como no país, duas versões de um mesmo fundamentalismo. O primeiro ainda em registo cassete - clássico e previsível; o segundo tecnologicamente mais evoluído, já na geração do CD, e supostamente mais fraturante. Ambos estão interessados em discutir tudo menos a cidade, acreditando que assim poderão fixar o seu eleitorado. PCP e Bloco são, quando muito, alternativa um ao outro.
A surpresa, pela negativa, é a candidatura apresentada pelo PSD. Não apenas pelo candidato em si, mas pelo que significa em termos de divórcio com o Mundo real - é da autoria de Passos Coelho a frase "o Porto está parado", um dos tesouros destas eleições. Um partido que já deu ao Porto autarcas como Paulo Vallada ou Rui Rio opta agora por se demitir de ter um projeto, uma ideia sequer, para a cidade. Mas é o que sucede quando as trincheiras do aparelho valem mais do que o pensamento político.
*Empresário e Pres. Ass. Comercial do Porto