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Na noite do dia 28 de Fevereiro de 2013, Bento XVI deixou o ministério petrino para sempre. Terá sido, até hoje, o acto mais sério a que a Igreja contemporânea assistiu e que, pelos vistos, ainda não entendeu. Cerca de quinze dias depois, o conclave cardinalício escolheu para sucessor um homem que nem sequer gostava particularmente do Vaticano e cuja emergência continua a ser, pelo menos para mim, um mistério.
Durante oito anos, Ratzinger levou cada um de nós para a oração "com o coração de pai". Não abandonou a cruz e permaneceu "de modo novo junto do Senhor Crucificado, "oculto do Mundo", ao "serviço da oração". Talvez a pensar no aperfeiçoamento moral das conferências episcopais, Francisco, mais ou menos por esta altura, mas em 2019, convocou-as para uma "cimeira" na colina vaticana para discutir abusos sexuais e infelicidades congéneres. Foram ouvidos, e abençoados, abusados (raramente há abusadas, salvo no "relatório Strecht" que detectou 42,2% de abusadas na sua matemática abstrusa de estatísticas e extrapolações inexplicáveis cientificamente), enquanto os seus representantes andaram quatro dias e quatro noites a rondar o pequeno Estado pontifício na esperança de poder assistir a algum "auto de fé" ao contrário. Ou, talvez, mesmo ao fim da Igreja e, por tabela, dos tempos, salvo o actual. No fundo, queriam um "cancel" eclesiástico. Tal como cá, há duas semanas, quando saiu o "relatório", algo por que tantos indígenas que se publicam suspiram, entre tremeliques histéricos e obsessivos sobre o sexo e os anjos.
Francisco, entretanto, elaborou uma espécie de nova tábua de "mandamentos", em oito partes, e despediu os bispos com uma missa. Os "activistas" de 2019 ficaram decepcionados, como ficarão os de 2023. Ocorre que, uns e outros, porventura os mesmos, não conhecem a Igreja. Em compensação, os "congressistas" de Francisco não apenas a conheciam, como são ela de corpo e alma, nas suas luzes e sombras. É a Igreja viva, da fé, e não a do culto político, para recorrer de novo à palavra de Bento XVI. Ela só existe porque existem pecadores, lá dentro e no Mundo. E a "cimeira" de Fevereiro de 2019 terminou sem relaxes ao braço secular ou à opinião normalmente ignorante e atrevida que se publica.
Estamos nos quarenta dias que conduzem à Quaresma, ao Corpo de Jesus Cristo, ao escândalo diariamente renovado da cruz. Ele foi tentado três vezes, nesses quarenta dias, pelo demónio, no deserto. Os abusadores e os violadores - nem que fosse um - perderam há muito o caminho da "contínua subida ao monte do encontro com Deus". Não terão perdão.
o autor escreve segundo a antiga ortografia
Jurista