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A ilusão do calendário faz supor que existe um período que termina e outro que começa. As "férias" finalizam-se na semana que entra agora, com o termo de Agosto pelo meio, e uma nova vida retoma-se, na sua banalidade, a seguir. Não é bem assim. A verdade é que nem a pandemia acabou - pelo menos a OMS ainda não decretou tal -, como, em simultâneo, o planeta não conseguiu adaptar-se a um hipotético cenário "pós-pandemia", com todo o seu cortejo de "planos" económicos disto e daquilo. Porque entretanto emergiu uma guerra. Veja-se o caso português. Um Governo de maioria absoluta, medíocre, entregue durante as "férias" a umas loucas e loucos de serviço que não "vivem" cá. Foram até à serra da Estrela, em bando, anunciar bem-aventuranças futuras depois de aquilo ter ardido tudo. Estilo: "há males que vêm por bem", e a gente agora vai fazer dos escombros um admirável pequeno novo mundo, mesmo sem sabermos ler e escrever. Uma das piores, a Temido, regressou em força afirmando que era preciso andar praticamente até à idade da pedra lascada para encontrar a "culpa" pelos males do SNS. Pelo caminho, a senhora "enterrou" gente digna como Maldonado Gonelha ou Leonor Beleza porque, famosamente, é uma atrevida desbiografada. O do Ambiente, com quem simpatizo pessoalmente, veio falar na "bilha solidária", revelando não ter bem a noção da desgraça que aí vem com os gases e as electricidades. E Marcelo? Bom, Marcelo deu em assinar diplomas do Governo, "com dúvidas", e passeia a sua inutilidade institucional e política, desde o Algarve ao Parque Eduardo VII, desviando por Angola, onde, por sinal, ocorreram umas eleições semivergonhosas, avalizadas por alguns "vultos" nacionais, convidados pelo Governo local, e que têm de continuar a fazer pela vida deles. É como se, no universo da magnífica "lusofonia", connosco à cabeça, não houvesse nada de sério fora dela. Sucede que há, e está para continuar. Ninguém explica aos portugueses que, para além da recessão provocada pela pandemia, e da inflação que já resultava das manipulações financeiras do "lado de cá", juntou-se o efeito "boomerang" da Ucrânia e das sanções, sem tom nem som, à Federação Russa. Desde Fevereiro que o centro do mundo ocidental passou a ser o regime de Kiev. Quando, na verdade, o que está no meio, a começar pela própria Ucrânia - um Estado sem uma nação -, são puras marionetas de uma redefinição geopolítica global em curso entre os EUA, a Rússia e a China, com um novo interlocutor oportunista pelo meio chamado Turquia. Esta União Europeia não tem altura para isto, como reconheceu indirectamente Macron. Portugal, a periferia, prossegue mantido na ignorância, na festança e no adiamento. Costa quer mais tempo para a "bazuca. Ainda lhe rebenta em casa.
(O autor escreve segundo a antiga ortografia)
*Jurista