Portugal está a crescer. E agora?
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Portugal está finalmente a crescer e isso é, sem dúvida, uma boa notícia. Segundo o Banco de Portugal, a economia deverá avançar 1,6% este ano e 2,2% em 2026. No segundo trimestre de 2025, crescemos 0,6% face ao trimestre anterior, superando claramente a média da Zona Euro, que ficou pelos 0,1%. Estamos, por fim, acima da linha da água europeia. Mas isso chega?
Crescer é importante, mas, por si só, não basta. Crescimento conjuntural, assente em fundos europeus, retoma do consumo e bom desempenho do turismo, pode ser um alívio, mas não é uma estratégia. O verdadeiro desafio é este: transformar o crescimento em transformação estrutural. E Portugal ainda não tem uma economia capaz de gerar valor acrescentado de forma consistente e sustentada.
Continuamos a ser um país onde se arrisca pouco, se investe com dificuldade e se escala com entraves. Um país onde há talento, mas falta capital; onde o sistema fiscal penaliza o mérito, onde a burocracia sufoca a ambição e onde o tempo político é curto demais para as reformas de que verdadeiramente precisamos.
Se queremos que este crescimento seja duradouro, é preciso algo mais. Mais estímulo ao investimento produtivo, mais incentivo à inovação empresarial, mais apoio a quem exporta tecnologia, conhecimento, propriedade intelectual. É preciso menos subsídios assistencialistas e mais condições para criar e crescer com autonomia. A execução dos fundos europeus e dos fundos do PRR tem de ser mais eficiente, mais direcionada para as empresas e organizações que querem transformar e não apenas sobreviver.
Portugal precisa de um compromisso sério com o futuro. Precisa de uma política fiscal que recompense quem reinveste, de uma estratégia industrial moderna, orientada para as cadeias de valor globais, a transição digital e a economia verde. Precisa de um ecossistema que valorize o conhecimento, a ciência e a ambição. E é fundamental alinhar talento, tecnologia e capital, em vez de os deixar dispersos por políticas avulsas.
Estamos a crescer. Agora é o tempo de fazer desse crescimento uma base para escalar, transformar e competir. Não podemos contentar-nos com crescer melhor do que ontem, temos, sim, de preparar o país para crescer melhor do que os outros amanhã.