O funambulismo (in Wikipédia) é uma arte circense baseada em habilidades de equilibrismo que consiste em caminhar sobre uma corda tensa em posição elevada. A corda está presa pelos dois extremos.
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Os nossos líderes políticos, em particular António Costa, concentram-se por estes dias em fazer suster a nossa respiração coletiva, inclinando-se perigosamente à direita e à esquerda sobre a corda esticada do acordo governamental.
Como Philippe Petit que em 1974 atravessou um cabo esticado entre as torres gémeas, António Costa passeia-se entre dois blocos aparentemente iguais. Um mais disponível para mudar de pele, o outro mais concentrado em tratar da vida como ela é. Talvez Costa, como Petit, tenha praticado incessantemente este seu número, mas a barra de ferro de que dispõe para garantir a travessia com sucesso não é suficientemente comprida.
Mas há outras travessias em curso. Com cordas a alturas muito menos impressionantes. Por exemplo, Catarina Martins e Jerónimo de Sousa, em funambulismo de mãos dadas, fazem a travessia entre o encurralamento de Costa e do PS e o esvaziamento dos seus próprios programas eleitorais. Esta corrida para a pseudoviabilização de uma solução à Esquerda é de tal forma sem sentido que António Costa, quando finalmente pisar terra firme, vai alegar que não pode coligar à Esquerda porque os partidos desse espetro se aburguesaram depressa de mais.
Mas, entre Lisboa e Celorico esticou-se outra corda e em cada ponta há um equilibrista. Marcelo Rebelo de Sousa ainda não foi provocado mas não resistirá a dançar e a rodopiar nas alturas. Mais calma, Maria de Belém está de olho num funambulista mais acima para ver se tem ou não de se afastar em caso de queda.
Cá em baixo, embasbacados, estamos nós todos, sem perspetivas, sem regras, sem garantias de estabilidade. Empresas que não sabem se podem investir, acordos coletivos de trabalho que esperam amedrontados a luz do dia, preços que não se formam porque não sabemos que impostos nos trará o dia de amanhã.
Fica por saber se, como em Who Finds Wally?, encontraremos Cavaco Silva tão embasbacado como nós todos, a olhar para o céu.
Nota: Por razões de agenda escrevi este texto na terça-feira dia 13 de outubro. Pode ser que no dia em que for publicado os números de circo sejam já só uma recordação.