O barómetro de inovação COTEC 2014 coloca Portugal no 29.º lugar, dois acima do ano passado, entre 52 países analisados. Muito razoável para uns, insuficiente para outros. A simples posição na lista, todavia, quase nada esclarece. Tal como em qualquer ranking, o diabo está sempre nos detalhes. A avaliação que lhe está subjacente resulta de uma combinação de fatores que vão sendo ponderados e agregados até se chegar a um número final, justamente aquele que determina a posição na lista. Nalguns casos, como acontece no barómetro da inovação, avaliam-se as capacidades e potencialidades, por um lado, e as realizações e resultados, por outro. Pode obter-se o mesmo resultado final sendo bom nas capacidades e mau nos resultados; ou sendo mau nas capacidades e bom nos resultados; ou mesmo sendo mediano em ambos.
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Um olhar atento mostra que Portugal continua a pontuar bem nas condições para a inovação, onde adquirem estatuto de estrela as infraestruturas, mas que em termos de resultados económicos mensuráveis não passa da mediocridade. Esta é a leitura que importa no barómetro da inovação. É uma espécie de regresso ao nosso passado futebolístico, quando se dizia que éramos os campeões do Mundo do jogo sem balizas. Com posse de bola e fintas deliciosas, lá íamos prometendo o sucesso, mas no fim dos 90 minutos os golos não apareciam e o adversário ganhava.
Este estatuto de cigarra a que nos vamos habituando, confiantes nas inigualáveis autoestradas, no esplêndido sol, no melhor peixe do Mundo ou mesmo nos extraordinários golos do Ronaldo, faz com que passemos sempre ao lado do sucesso. Aquilo que no futebol se designa "passar ao lado de uma grande carreira". Só que o tempo joga contra nós. Desde logo porque alguns dos ativos que alimentam a esperança vão ficando obsoletos ou então partem para outras paragens. A emigração qualificada a que temos assistido nos últimos anos é bem disso exemplo, apesar da felicidade, quase apalermada, que o Governo sente no alívio da conta do subsídio de desemprego.
A inovação vive sobretudo dos mecanismos de criação de valor. São inovadoras as economias que melhor cuidam da integração do conhecimento nos processos empresariais, seja ao nível do produto, dos processos de fabrico, do marketing ou da própria organização. A relação das universidades com as empresas é, a este propósito, de importância vital. Assim o reconheceu o Governo quando, em boa hora, desenhou o Acordo de Parceria que vai enquadrar os programas operacionais temáticos e regionais do Portugal 2020. Sem inovação, não será possível internacionalizar mais a nossa economia, nem conquistar o prestígio e as quotas de mercado que suportarão o crescimento.
Subsiste, no entanto, a dúvida sobre a interpretação e a operacionalização deste desígnio. No passado, a abordagem tem sido olhar para cada um dos elos da cadeia de criação de valor sem cuidar da sua conectividade e da sua coesão. Não adianta dizer que as universidades estão longe das empresas ou vice-versa. Aquilo que importa melhorar urgentemente é o seu modelo de relacionamento, que é ainda subdesenvolvido.
A chamada terceira missão da universidade, aquela que se ocupa da valorização do conhecimento, é simplesmente desconsiderada pelo Governo deste país. Não é objeto de financiamento específico e encontra permanentemente resistência por parte de organismos do Estado que revelam uma ignorância confrangedora sobre o seu papel. A atividade de incubação de novas empresas spinoff nascidas a partir da universidade e baseadas em conhecimento é fortemente deficitária. Quando se trata de registar ou licenciar patentes, as universidades estão sempre numa posição negocial de inferioridade face às empresas. O capital de risco público tem, em Portugal, esta característica única, pela negativa, que é a de gastar mais em comissões de gestão dos fundos do que em investimento em empresas. A tudo isto, ministros e ministérios assistem impávidos e serenos, não sei bem se por incompetência, se por ignorância. Tanto faz, o resultado é o mesmo.