Se olharmos o Mundo a partir do centro da Europa, Portugal tende a ser visto como país periférico, mas as dinâmicas internacionais vão criando novas centralidades que se deslocam para sul.
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Bertrand Badie, professor de ciência política na famosa escola de Paris, acaba de publicar o ensaio "Quando o Sul reinventa o Mundo", em que mostra como os países do Sul, muitos resultantes de processos de descolonização, têm reagido à globalização transformando as fragilidades em forças e condicionando o sistema internacional.
Após refletir sobre as novas e crescentes formas de conflito, cada vez mais desencadeadas no interior dos próprios estados, embora com repercussões mundiais, Badie aponta a urgência de reinventar o sistema internacional e aproveitar a força dos mais fracos ou daqueles, como a China, que o foram no passado e estão agora a emergir. Como manifestação de uma nova ordem, destaca a crescente cooperação regional e local em África, na América Latina ou na Ásia, valorizando os seus contributos para uma agenda internacional centrada na gestão global dos escassos recursos coletivos.
Neste contexto, Portugal dispõe de uma posição estratégica que tem aproveitado para se projetar no exterior, com crescentes benefícios em diversas áreas, desde o comércio externo ao investimento interno, do turismo à atração de estudantes para o ensino superior. Num Mundo que tende a valorizar as redes e a cooperação entre blocos regionais, temos a vantagem de ser o único país que, ao mesmo tempo, integra a União Europeia, a CPLP e a comunidade ibero-americana.
Há poucos dias, Portugal participou ao mais alto nível na Cimeira Ibero-Americana, que reúne 22 países da América Latina e da Europa, com afinidades linguísticas e culturais, empenhados numa cooperação Sul-Sul que privilegia a coesão social, o conhecimento e a sustentabilidade. Esta semana, a Cimeira Luso-Espanhola comemorou 40 anos do Tratado de Amizade e Cooperação, que representa o início das relações entre os dois estados democráticos depois de saírem das ditaduras. Partilhamos com Espanha muitos interesses e uma extensa região fronteiriça, além de representar o maior mercado para as exportações portuguesas.
Por fim, recebemos a visita do presidente de Angola, aguardada com expectativa e entusiasmo, depois de quase dez anos de diálogos entrecortados. Nesta nova cartografia global, Portugal vai construindo a sul uma nova centralidade.
*PROFESSORA UNIVERSITÁRIA
