"Ah! Somos um país pequeno e periférico..." Quantas vezes já ouvimos esta frase? É a frequente justificação dos infortúnios da nossa realidade nacional.
Com graves consequências, como a emigração de muitos jovens qualificados, o país vive estagnado desde a entrada no século XXI, e de forma reiterada, as causas (ou desculpas) apontadas ao fraco desempenho económico têm raízes no tamanho e na posição geográfica de Portugal. Mas, caro leitor, francamente, tudo não passa de complexo de inferioridade, de um subterfúgio ou desculpa que desvia a crítica do essencial. É, tristemente, a forma como nós, povo de Viriato e país dos Descobrimentos, tentamos conformar-nos com a senda de um suposto triste fado.
A narrativa miserabilista da circunstância de país pequeno e periférico, fortemente impregnada no espaço público, intoxica a clarividência necessária para se perceber que Portugal não tem de estar condenado à qualidade de país de salários baixos, pouco competitivo e de fraca ambição. Em três décadas de vida, não me recordo de períodos longos de prosperidade. Tenho, sim, a má memória das crises. As crises, essas, historicamente recorrentes, resultantes da rotineira visão de curto prazo, da dívida, do centralismo e da dependência estatal da economia portuguesa.
Será, porém, que é por Portugal ser um país pequeno e periférico que a economia não cresce? O que é, afinal, um país pequeno? Portugal é consideravelmente maior do que outros países europeus, como a Irlanda, o Luxemburgo ou a Suíça, e tão periférico como a Suécia. Acresce também que num Mundo globalizado, interligado, o capital e a informação - e, portanto, o investimento - dependem cada vez menos (ou nada) do tamanho ou da geografia de um país. Compram-se ações de empresas ou dívida de um país do outro lado do Mundo em segundos. O futuro trará mais pessoas a trabalhar de e para qualquer parte do Mundo. Ou seja, o tamanho ou a condição geográfica é um assunto acessório. Dá, sim, jeito a quem não fez nem quer fazer ou progredir, refugiar-se em questiúnculas, somando desculpas tão esfarrapadas quanto o nosso crescimento nos últimos 20 anos.
Portugal não é, pois, um país pequeno e periférico. Portugal são dez milhões de portugueses e uma diáspora assinalável espalhada pelo Mundo. O problema de Portugal é viver há vinte anos mergulhado em estagnação e dependência, numa agenda desenhada e implementada pelo Partido Socialista. A recuperação económica não vaticina um cenário muito diferente no médio prazo e quando o dinheiro europeu terminar e concluirmos que continua quase tudo por fazer, é provável, se não inevitável, que a culpa seja a de sermos um mercado pequeno e periférico. E assim continuaremos ao engano. Até quando?
Eurodeputada do PSD
