No combate ao racismo não há mas nem meio mas. Não há desculpas, justificações, comparações com outros casos mais ou menos graves. Entre as vítimas, não há quem se ponha a jeito, nem uns que merecem mais do que os outros.
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Quando Marega é insultado por ser africano, somos todos insultados, não porque somos africanos, mas porque somos cidadãos da Europa, Ásia, América, África ou Oceânia. Não há relativismo moral ou cultural que justifique a discriminação racial. Não há atenuantes, o racismo é um crime indesculpável. E porque é assim, é muito ténue a linha que separa os que insultam dos que procuram justificar, atenuar, desculpar.
Não se generalize, partindo do comportamento criminoso de uns quantos, para classificar todos os vitorianos como racistas, mas não aceitemos fazer de conta que toda a gente que tinha responsabilidade dentro do clube agiu da forma correta. O silêncio de André André e Ivo Vieira diz tanto sobre a cobardia deles, como a de todos nós que, noutras ocasiões, também fizemos de conta que não ouvimos. Mais grave foi a tentativa de transformar a vítima em agressor, primeiro pelo presidente do Guimarães e logo a seguir por quem tardou a chegar à evidência de que Marega não provocou, foi provocado. Ponto final. Parágrafo.
Portugal não é um país racista. Isso seria outra generalização que nenhum de nós pode tolerar. Portugal é um país que tem racistas? Sim, tem e não são poucos. Temos de nos deixar de falinhas mansas. O presidente da Assembleia-Geral do Vitória que aconselhou Marega a consultar um psiquiatra já não devia ser dirigente do clube. Os jornalistas também precisam de começar a trabalhar com tolerância zero. Ouvindo o que toda a gente ouviu, não podem falar de alegados insultos racistas, nem imputar esse juízo à vítima, nem considerar normal só porque já tinham ouvido aqueles insultos mais do que uma vez. E para que o racismo não avance é igualmente importante que a Comunicação Social deixe de dar palco ao imbecil do deputado que se ri na cara de todos nós, enquanto espalha ódio entre uns e outros.
Portugal não é um país racista e isso ficou evidente com a dimensão da condenação ao que se passou em Guimarães. Portugal não é um país racista, mas tem sido um país tolerante com o racismo e isso tem de acabar. Já não temos desculpa, Marega deixou bem claro que o rei vai nu. O racismo existe e está em todo o lado, no desporto, no trabalho, na política, na escola...
*Jornalista