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Logo após 2008, ninguém tinha dúvidas de que a responsabilidade pelo colapso económico mundial ia toda para a loucura gananciosa em que se tinha transformado a atividade bancária. Mas nos anos seguintes, a consciência coletiva europeia foi sendo colonizada por uma outra história. A de que a culpa de todos os males era dos estados e da dívida soberana. A alta finança e a malta dos bónus milionários, que fizeram o Mundo quebrar, eram afinal todos bons rapazes.
A Direita, em Portugal, rejubilou com a oportunidade para depauperar a ação do Estado. E a Esquerda moderada calou-se, refém da sua precipitada resposta à crise. O Estado é agora gerido como se fosse uma empresa. Desvalorizaram-se vidas para aumentar a competitividade. Os impostos são "receitas", as políticas são "medidas" e a proteção social é caridade. Tudo é decidido pelo custo, como numa má empresa. Os portugueses são contribuintes no momento da cobrança e parasitas na hora de os ajudar. Que se desenrasquem, só não têm mais porque não querem. No Reino Unido deu bons resultados a Cameron. E aqui, segundo as sondagens, esta rasteira conversa de café está a pegar, perante a incapacidade da Oposição, que se deixou manietar. Não há mesmo alternativa a isto?
*JORNALISTA