O professor Joaquim Azevedo chama-lhe "catástrofe silenciosa". E é! Chegarmos a 6,3 milhões de habitantes em 2060 é simplesmente aterrador. Sobretudo se por cada 100 jovens existirem (conforme previsto) 464 idosos.
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Os dados acima são previsões do INE. É verdade que são as previsões mais pessimistas, mas calculem que o mais pessimista é contar que as taxas de natalidade se mantêm como estão hoje: 1,28 filhos por mulher em idade fértil. À primeira vista parece-me que é exatamente o que se prepara para acontecer.
O discurso do professor Joaquim Azevedo (coordenador do grupo de trabalho criado pelo Governo para apresentar um plano de ação a favor da natalidade) assenta sobre uma ideia muito sensata: trata-se de uma tarefa que envolve todos, do plano individual ao coletivo, da família às organizações. Curiosamente, ou não, dá muito menos importância ao ou aos governos.
Tem duplamente razão: este é um problema que, podendo ser incentivado por políticas públicas não pode ser determinado de cima para baixo e, por outro lado, os governos primam pela descontinuidade das políticas pelo que só haverá segurança na direção se o povo tomar consciência e assumir um pacto coletivo, não escrito e tantas vezes não expresso, para a sua resolução.
Daí que a primeira coisa que sugeriria fosse a organização de uma inteligente ação de comunicação, original e duradoura que paulatinamente nos fosse convencendo da plausibilidade do nosso definhamento e da nossa capacidade de o debelarmos.
Andamos há tempo de mais a ver-nos do lado de fora. Ora nos espreitamos no Allgarve, ora no West Coast of Europe ora noutra coisa qualquer (não sei qual é o moto oficial do país visto da AICEP, por estes dias). Sempre novos, modernos, bronzeados e muito politicamente corretos.
Mas não nos vemos nem nos vendemos a nós próprios. Façam cartazes, anúncios, portais, apps, surpreendam-nos com flash mobs, projetem imagens nos monumentos, deixem fazer graffiti nas paredes, nos muros, seduzam-nos a fazermos de espelho uns dos outros.
Antes deste mergulho do nós no eu, tudo será estatística, discurso, medidas, ações e tipologias, ou seja, a prazo, letra morta.
Depois, temos de ir por partes.
1.0 - Repor a atual geração. Vai ser muito difícil. As mulheres portuguesas (e mesmo as residentes em Portugal de todas as nacionalidades) em idade fértil estão, neste momento, a ter filhos pelos 30 anos em contexto de grande precariedade financeira e incerteza económica. Terão sempre poucos filhos porque não há tempo nem razões para as convencer de um futuro risonho. Podemos e devemos tentar facilitar-lhes a tarefa. Mas terá sempre efeito paliativo.
Haverá então que pensar em criar algumas políticas de captação de famílias mais novas com filhos ou com capacidade de ter filhos. Porque não direcionar algumas das ideias e dos apoios que já existem (designadamente a nível autárquico) para segmentos de imigração com essa apetência?
Estou bem consciente da dificuldade que uma autarquia terá, por exemplo, ao apoiar famílias ou mulheres não nacionais com tantos portugueses aflitos. Mas por isso é que falo na necessidade de nos vermos como estamos: velhos e a desaparecer.
2.0 - A seguir, os que vão ter filhos daqui a 20 anos. Essas e esses terão de chegar a uma sociedade mais preparada. Neste contexto, fazem sentido todas as políticas ativas de que nos lembrarmos. Do empréstimo bancário que assegura a estabilidade de rendimentos em situação de desemprego temporário, à creche na empresa, do horário flexível, dos serviços a tempo parcial ou do teletrabalho; dos apoios financeiros aos partos, às fraldas, às papas, a um serviço nacional de saúde ainda mais primoroso no apoio neonatal e pediátrico.
Temos 10 anos para progredir, em contexto de sociedade civil pouco a pouco contagiando-nos e dando a conhecer os resultados. Sou das que gostam de decompor o problema para o resolver. Mas enfim, e como diz Agustina, humildemente reconheço que "o país não precisa de quem diga o que está errado. O país precisa de quem saiba o que está certo".