A presidência portuguesa do Conselho da União Europeia (UE), que terminou no final de junho, fez um meritório esforço em prol da criação de uma Agência Europeia para o Asilo. No entanto, as negociações com o Parlamento Europeu resultaram "apenas" num acordo provisório sobre a proposta de regulamento. A fuga massiva para o Ocidente de afegãos criou aquilo que poderemos chamar de "efeito Cabul". Se não temos uma real política de asilo, aproveitemos o ensejo para mostrar que a história da UE não se resume ao Brexit.
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Em Itália, o líder da Liga, Matteo Salvini, não perde uma oportunidade para rechaçar os imigrantes. Ao problema de Lampedusa junta-se agora o da debandada afegã. Em Portugal, prepara-se já uma cimeira que irá juntar, "até ao final do ano", André Ventura com o líder do Vox, Santiago Abascal. O fluxo migratório provocado pelos talibãs, a que acrescem os atentados do Estado Islâmico, será certamente um tema em debate. Aliás, em meados de agosto, o Chega criticou os Estados Unidos por terem deixado o Afeganistão "à sua sorte" e pediu "uma política de controlo migratório firme" na UE que evite "uma onda de imigração indesejada".
Até para anular a eficácia eleitoral deste discurso extremista, a UE deve acelerar o passo em duas frentes: afinar uma política mais ativa de prevenção e resolução de conflitos militares junto de países instáveis - deixando de se apoiar em excesso no amigo americano -, sob pena de receber hordas de refugiados sem condições mínimas e, por outro lado, colocar no terreno a referida Agência Europeia para o Asilo, com orçamento e poderes bem definidos. Por fim, o "efeito Cabul" não deve dar azo a um acolhimento desregrado. A cultura e leis de quem recebe têm de prevalecer. Dar asilo não significa aplicar regras do exterior no interior dos países anfitriões. Em Roma sê romano. Nos países da UE sê europeu.
*Editor-executivo-adjunto