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Hoje é o Dia Mundial da Poupança.
Para quem vive afogado em dívidas, sobrando-lhe dias no final do dinheiro do salário mensal, resta-lhe um encolher de ombros à data. Pior, muito pior, naturalmente, só a ignorância pura e simples da efeméride por parte dos cidadãos já a surfar no patamar da miséria. Para uns e outros o assinalar da data não passa de uma treta. Sobreviver é, só por si, uma prioridade.
O capital (leu bem...) da efeméride não deve, no entanto, ser vulgarizado - desbaratado, até. O Dia Mundial da Poupança dispõe de componentes de alerta nada desprezíveis, pode e deve funcionar como sinalética pedagógica, introduzindo regras mínimas de bom senso e de travão ao consumismo desenfreado.
O conceito de Poupança está, de todo, nos antípodas dos padrões de vida alimentados pelo Mundo Ocidental nas últimas décadas. Não por acaso os cidadãos, as famílias e, pelo seu somatório, alguns países, encharcaram-se num mar de dívidas, a maioria originárias da incapacidade de resistir ao consumismo baseado nas facilidades de concessão de crédito para tudo e para nada agitadas pela agressividade do marketing da Banca, seguindo uma política apelativa na qual os juros baixos funcionaram como isco.
Essa perversão não podia resultar mais catastrófica. Os desequilíbrios cavaram um fosso cada vez maior entre ricos e pobres, estreitando a faixa de remediados - afinal os mais disponíveis para o aforro possível, após adquirirem a consciência de mais perto estarem da passagem a mendigos do que a magnatas. E se há circunstancialismos interessantes, em Portugal o maior deles é como se exercitam agora mecanismos de atracção do aforro de quem ainda tem capacidade para tal - mas agora como forma de a Banca se financiar, à falta de linhas de crédito e incapacidade de solvência de créditos suportados na especulação financeira alimentada nas últimas décadas.
Num país onde, para sustentar um Estado monstruoso, os rendimentos do trabalho são taxados a partir do salário mínimo (485 euros!) - ronda os 809 euros o ordenado médio nacional, 741 na Região Norte - não espanta estar a taxa de poupança dos portugueses nos 9,8%, cerca de metade da existente em 1970. Só por milagre poderia ser diferente.
O Dia Mundial da Poupança acaba, assim, por ter um outro importante traço: mais do que saber como arranjar um pé-de-meia, impossível para a maioria da população, impõe-se adquirir novos hábitos, registar conselhos de poupança, mas para... sobreviver. Os tempos estão mais vocacionados para os portugueses trocarem o valor do consumo de uma lâmpada no candeeiro da sala ou da água gasta no banho de imersão por latas de salsichas (pois, o IVA vai passar de 13% para 23%) e farináceos para matar a fome. A sua e a dos seus filhos. Triste sina.