A questão das parcerias público-privadas (rodoviárias) foi, no âmbito do Programa de Ajustamento, discutida intensa e superficialmente. Quase nunca se passou da ideia de que as autoestradas ficaram mais caras do que deviam porque os contratos foram mal feitos, os fluxos de tráfego permanentemente sobrevalorizados, tendo como consequência régias e progressivas compensações aos privados. Tudo isto em tom de arremesso e nunca de pedagogia ou resolução determinada que nos sossegue para futuro.
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No final da barulheira, lá nos vimos confrontados com uns tantos milhões de poupanças que confortaram a troika até à sua saída mas nunca foram objetivamente explicadas.
Em paralelo, assistimos impotentes à colocação de portagens que, cruzadas com a crise económica, originaram uma debandada geral para estradas nacionais, regionais e municipais, há muito desadequadas a tal volume e tipologia de trânsito.
Todos experimentamos, por estes dias, a realidade de autoestradas subaproveitadas e de estradas nacionais e municipais cheias de um trânsito intenso e perigoso.
O resultado é que os acidentes estão a aumentar. Segundo dados da Autoridade Nacional da Segurança Rodoviária, passamos de 43 617 acidentes em 2013 (de 1 de janeiro a 21 de maio) para 45 330 acidentes em igual período de 2015. Estes geraram mais 11 mortos e mais 121 feridos graves.
Não haverá dúvidas que a transferência acima descrita terá alguma coisa a ver com esta infeliz estatística.
Mas, a piorar o assunto, temos ainda o tema da manutenção. Com tanto trânsito os IC, EN e EM estão em pantanas. O Orçamento do Estado não tem dinheiro e o Quadro Comunitário também não.
E as portagens, essas vão-se manter. Quanto mais não seja porque não será conveniente voltar a ter demasiado trânsito nas ditas. Afinal, muito provavelmente, as famosas poupanças foram conseguidas à custa da retirada das obrigações de manutenção aos concessionários. As rendas, a ser assim, não baixaram. O serviço é que diminuiu.
Devíamos pensar nisto a sério. Sob pena de autarcas e governantes não conseguirem gerir uma rede vital para o funcionamento do país e que, cada vez mais, pode vir a ser fatal para os seus cidadãos.