Pronto! Aconteceram as eleições europeias. Para que a bota batesse com a perdigota, os comentários e os balanços, por toda a Europa, falaram apenas de política interna. No seu conjunto, olhando para a Europa a 27, estas eleições evidenciam uma viragem à direita e uma radicalização e mudança de agenda à esquerda, com a subida dos partidos da extrema-esquerda e dos ecologistas. A Esquerda moderada, sobretudo a que está no Poder, foi a grande derrotada. Incapaz de evitar e gerir a crise, defraudou tudo e todos, não conseguindo conciliar a agenda da radicalização à esquerda com as motivações do eleitorado centrista. Perdeu os que votam ao Centro para os partidos de Direita, a quem esses eleitores reconhecem mais capacidade de gerir esta conjuntura difícil, e perdeu as franjas mais à esquerda para os partidos radicais mais capazes de manter acesa a chama da utopia. O caso alemão é, desse ponto de vista, elucidativo: no governo de coligação, aguentaram-se os cristãos-democratas e afundaram-se os sociais-democratas.
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No seu conjunto, os resultados invalidam a tese dos que viam nesta crise, e na sua origem, uma oportunidade para uma mudança de sistema económico, com o retorno, em força, do Estado que ocuparia o espaço deixado livre por um mercado desacreditado. Pelo contrário, ao não penalizar os partidos de Direita no Poder (até Berlusconi ganhou as suas eleições!), os eleitores terão querido dizer que não reconhecem futuro às soluções centradas no Estado.
Por cá, o PSD, como lhe competia, cavalgou a onda da vitória. Em contradição com o seu estatuto de portista, o discurso de Rangel fez lembrar o do presidente do Benfica sempre campeão na pré-época! Reconheça-se, porém, que extrapolando os resultados para as legislativas, um novo/velho desafio se coloca ao Centro e Direita portugueses: em conjunto, PSD e CDS estão próximo do limiar que lhes poderia garantir a maioria absoluta. E constituíram-se numa alternativa. Se forem capazes de criar e credibilizar essa dinâmica, haverá muitos que deram Ferreira Leite por morta e enterrada a engolir as profecias. Credibilizar é a palavra-chave. Ser contra os grandes investimentos não chega, muito menos com o argumento de que os custos ficam para as gerações futuras como Rangel, empolgado, repetiu. Se esse argumento valesse, nunca se fariam investimentos estruturais. O que conta é o saldo entre custos e benefícios e, quanto a isso, para além de afirmações de fé (que até tendo a subscrever!), nada de concreto se ouviu dos lados do PSD. Chega para as europeias. É pouco para quem quer ser governo.
Ser governo! Acredito que esta hipótese angustie hoje alguns dos dirigentes do Bloco de Esquerda. Uma coisa é certa: não será possível haver um governo de Esquerda em Portugal se mais de 21% do eleitorado optar pela extrema-esquerda e esta se mantiver, irredutível, apenas como contrapoder. Ser governo? A atracção do abismo?
Talvez as "europeias" tenham sido só a pré-época e Sócrates consiga afinar a equipa para o campeonato das legislativas. Detalhes? Novos jogadores? Não esquecendo que, na política, ao contrário do futebol, pode haver alianças, dois a ganhar. Aí, sim! Sócrates não parece o treinador adequado. Já há gente a afiar os dentes para a "chicotada"...