Precious. Nem foi o corrector ortográfico que falhou nem é uma nova grafia decorrente do acordo ortográfico. Trata-se do título de um filme que tenta estabelecer uma relação entre o ambiente (doméstico e de bairro) em que vive uma jovem americana, as suas dificuldades em aprender, os seus sonhos e o papel que a educação pode ter na saída desse círculo vicioso.
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Uma das partes mais interessantes do filme consiste na descrição da experiência de ensino para aquele tipo de destinatários: métodos pedagógicos não convencionais, pequenos números, acompanhamento individualizado. Não sei o suficiente sobre métodos de ensino e aprendizagem para dizer se esta é, sempre, a melhor solução em ambientes difíceis, propensos à indisciplina e, mesmo, violência. Sei é que mais vale investir na educação nas fases iniciais da vida do que tentar fazer a inserção mais tarde. O que nasce torto... acaba no pagamento do rendimento mínimo.
São estes problemas educativos que devíamos ver discutidos. O sistema de educação tem uma função integradora a cumprir. O que não é o caso: segundo a OCDE, Portugal está entre os países com menor mobilidade social no tempo, entre gerações. Enredados em discussões sobre avaliação, carreiras, horários, remunerações, fechamos o sistema sobre si próprio esquecendo que a educação contribui para remover obstáculos à mobilidade social intergeracional e promove a igualdade de oportunidades entre as pessoas e que, ao permitir dar aos recursos humanos o seu melhor aproveitamento, se torna num factor de estímulo ao crescimento económico.
A necessidade de produzir resultados pode explicar que se dê prioridade aos níveis mais avançados de ensino no imediato. A prazo, porém, a maior capacidade integradora e o maior retorno para a sociedade estão no investimento no pré-escolar e nos níveis básicos de educação. Pouco adianta as propinas do ensino superior serem baixas se os estratos populacionais mais carenciados nunca lá chegam. Tal política, ao invés, põe os excluídos a financiar os que têm acesso ao ensino superior e estes são os filhos das classes mais educadas e melhor remuneradas. A prática ao contrário da retórica. Um aumento de propinas no ensino superior seria uma medida socialmente justa e permitiria financiar uma política de acção social mais abrangente. Se diferente. Se eu tiver dúvidas sobre a elegibilidade do meu filho para uma bolsa social tenho de ter uma resposta antes de ele entrar no ensino superior. Na dúvida, provavelmente vai trabalhar, perpetuando o tal ciclo vicioso, cristalizando a desigualdade. Não bastam enunciados. É preciso pensar nos destinatários.