O avolumar dos óbitos e dos casos obriga-nos a refletir não tanto sobre a mentalidade portuguesa mas antes sobre a autoridade do Estado. Não sei se chegou a hora mais negra, a hora da verdade ou o salve-se quem puder. Sei é que estão a morrer pessoas, empregos e empresas. E, perante isto, só vemos aflição, improviso e reação.
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Não me arrogo no direito de ser mais um "especialista de bancada" que comenta as medidas "covid" em tempo real. Não sou nem pretendo ser. Mas vivo, trabalho, giro uma empresa, lidero uma associação, tenho filhos na escola e, embora confinado, vejo o que se passa na minha rua, no meu bairro, na minha cidade e no meu país. Também sei que ninguém tem experiência ou sabedoria, no Governo como nos hospitais, para gerir uma crise tão grave e tão sem termos de comparação como esta.
O otimismo voluntarioso e acrítico e as decisões ao sabor das tendências dos fóruns radiofónicos e das redes sociais não são solução. O Estado não é suposto ser uma instituição reativa ou pavloviana. Com todo o respeito, o Governo não pode - com medidas ora brandas ora graves, muitas vezes em contradição sistemática - ser um fator de insegurança ou de instabilidade. Muito menos nesta altura.
Portugal receia e convive mal com o valor da autoridade. Quase 50 anos após o fim do Estado Novo, não se justifica a condescendência na aplicação das leis da República ou das simples regras da vida em sociedade. Agora, é o futuro da economia que está em causa. É a sociedade como a conhecemos que corre o risco de se desintegrar. O que, defendo, não deve obrigar a restrições adicionais ao trabalho.
Estando o país sob ameaça, é tempo de recorrer às Forças Armadas e colocar os militares na rua, em ações de patrulhamento e de vigilância. Como sucede (mesmo em tempos normais) em Espanha, em França e em Itália. Que não são países menos latinos nem menos democráticos por causa disso. As Forças Armadas existem para defender Portugal. E Portugal está mesmo em guerra. Com o vírus e consigo próprio.
Empresário e Presidente da Associação Comercial do Porto