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A estratégia é muito simples. Em vez de os países da União Europeia andarem, cada um, a negociar as compras de gás - fazendo subir o preço -, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, quer que os estados-membros se juntem e adquiram esta matéria-prima, com a vantagem de maior poder negocial. Um caminho já testado com a anterior compra em bloco de vacinas contra a covid-19 e que redundou num sucesso de combate à pandemia. Bruxelas diz que está tudo operacional e que até já tem negociações adiantadas com países fornecedores prontos a canalizar o gás a partir da primavera do próximo ano. Daí o conselho extraordinário dos ministros europeus da Energia de hoje ser um passo importantíssimo no objetivo de a Europa se livrar cada vez mais da Rússia. Ainda há uma semana, os países ocidentais deram um passo significativo para tentar sufocar as receitas energéticas de Moscovo e com as quais financia a guerra na Ucrânia. Os membros do G-7, a União Europeia e a Austrália ativaram um mecanismo para limitar o preço máximo das exportações russas de petróleo para países terceiros, fixado em 60 dólares por barril. Uma medida que procura um equilíbrio demasiado complexo, já que reduzir a receita da Rússia pode provocar um colapso na oferta. Mas se resultar, e passada uma semana há sinais de que sim, esta será uma machadada decisiva nas intenções de Putin. Em outubro, a União Europeia ainda importava 1,5 milhões de barris por dia da Rússia, um milhão a menos do que antes da guerra, mas ainda assim uma parte significativa das 7,7 milhões de exportações diárias de Moscovo. Uma coisa é certa: será difícil para a Rússia realocar o petróleo que a União Europeia deixará de importar e conseguir vender o excedente contornando o limite de preço. Isto porque as empresas ocidentais dominam o mercado nos setores de navegação, seguros e financiamentos ligados a esse tipo de operação. Apesar de as sanções já aplicadas contra a Rússia terem causado danos significativos à sua economia, ainda está longe do colapso, como mostra a força do rublo, ou as receitas petrolíferas de Putin, que em outubro ascenderam a 17,3 mil milhões de dólares. Assim como a guerra no terreno está longe do seu término, a guerra económica está apenas no começo. Como todas as guerras, ela terá consequências desastrosas de ambos os lados. Esperar pelo melhor e preparar-se para o pior, como dizia Fernando Pessoa.
*Editor-executivo