E se o discurso do líder do PSD indiciar a decisão de não afastar liminarmente o apoio do Chega para reorganizar a Direita?
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O tom de Rui Rio era um tom de ajuste de contas contra os críticos do pacto açoriano. Quando chamava a atenção para a estrutura de votos de André Ventura e sublinhava a estranheza da sua predominância alentejana e insular, Rui Rio parecia querer dizer "estão a ver? não valia a pena a aproximação? vejam só quantos votos representa". E Ventura percebeu-o quando, do seu palanque, gritou diretamente ao PSD a certeza da sua corte.
E se António Costa fosse o real vencedor do exercício tendo conseguido colocar a Esquerda mais radical numa posição de tal desconforto que poucos, por esses lados, pudessem continuar a negar a necessidade de uma aliança mais estável?
Em particular o PCP, porque Catarina Martins já o tinha percebido e implorado pelas alminhas. O risco de entregar o Governo à Direita, e a uma Direita ainda mais Direita do que a do tempo de Passos Coelho, é agora real e pode ser difícil ao PCP ficar sozinho com o ónus. Ou seja, o não lançamento de um candidato apoiado pelo PS, depois do apoio explícito anunciado a Marcelo na Autoeuropa, sabendo que os votos de protestos se dividiriam por uma série de candidatos, contribuiu de forma decisiva para pôr o BE e o PCP muito mais atentos e permeáveis a futuros ajustes.
E se Mayan Gonçalves vier a ser o candidato perfeito à sucessão de Rui Moreira? Do Porto, burguês e liberal, fez o seu debute com mérito e eficácia. E como a Iniciativa Liberal nem nos parece exatamente um partido poderá quase passar como independente.
Interrogações à parte, fiquei a pensar que não precisava de saber o que o presidente eleito ia jantar ou de que cor são os azulejos da sua cozinha. Esta insistência numa espécie de vida frugal de um homem só me traz à memória uma certa casa e uma certa D. Maria. Com todo o respeito.
Analista financeira