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Perfilados nos seus lugares, os candidatos às eleições presidenciais começam o ano a desempenhar os seus papéis com um destino marcado: dar o trono de Belém a quem lá está, Cavaco Silva. De momento, os portugueses aparentam não estar dispostos a trocar o que está pelo que pode vir. Pouco propensos a fazer rupturas e por de mais conformados com a sua sorte, como e porquê estariam propensos a mudar o presidente que já conhecem?
Esta, a constância, poderá ser a primeira razão da nulidade (não no sentido jurídico, mas da prescindibilidade) destas eleições, não fossem as regras da democracia inscritas na lei constitucional.
Nem o actual contexto político e social do país, na deriva das desgraçadas circunstâncias financeiras e económicas da conjuntura, em que uns esperam ardentemente pelo regresso de D. Sebastião e outros, em frémitos não menos ardentes, clamam pela vinda (este sim, um regresso) do FMI, foi propício a mudanças. Ninguém se atreveu a suscitar condições para a alteração do "status quo". Cavaco Silva garante que tem "o conhecimento do rumo que o país deve seguir". Com o apoio do PSD e do CDS aponta a "tranquilidade" das novas e prováveis cores do poder executivo. Os outros candidatos, parecendo que estão todos contra o actual presidente, anulam--se uns aos outros. Manuel Alegre não quis, ou não pôde, repetir a senda de correr sozinho. Apoiado pelo PS e pelo BE, consegue descartar os eleitores que temem o contágio do BE na localização centrada do PS destes tempos. Se há cinco anos tinha na sua rota Mário Soares, agora tem um Fernando Nobre que ainda não conseguiu demonstrar que não está nesta corrida para fazer o que Soares fez a Alegre. Defensor Moura, afinal, aquele que assumiu a rebeldia de acusar o sistema, também corre na área do PS. Francisco Lopes, o candidato mais sereno e politicamente mais bem preparado, tem a marca do PC, séria, íntegra, mas de eleitorado limitado. José Manuel Coelho, um extra-sistema, sem nada a perder, vai fazer a figura de franco-atirador, o que assusta a grande maioria dos portugueses.
Seja como for, Janeiro vai perder-se nos ruídos da campanha. Depois... Entretanto, muitos pensaram que o melhor era comprar um ou mais dos novos 223 491 automóveis vendidos em Dezembro, ou dar grande movimentação ao "dinheiro circulante" que ainda há por aí. A crise não estará ainda interiorizada, ou então, está, descontrolada, a provocar pânico por não se saber ao que ela nos levará?