<p>O XXXIII (sim, trigésimo terceiro - e até ao final do ano haverá outro!) congresso do PSD ofereceu-nos duas novidades e uma evidência. Primeira novidade: Pedro Passos Coelho fez um bom discurso de encerramento, dando a entender que não é tão mau como muita gente o pintava. As ideias saíram-lhe articuladas e politicamente bem direccionadas. Verdade que, provavelmente, Passos Coelho também não será tão bom como muitos o "vendem", mas, para arranque de ofício, pelo menos cheirou a fresco. Teremos tempo para ver se a matéria de que o novo líder é composto é autêntica ou "plástica", como tanta gente, bem ou mal intencionada, julga.</p>
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Segunda novidade: desde há muito tempo que o PSD não se posicionava tão claramente no espectro político. Por circunstâncias diversas, os anteriores líderes não puderam (como Luís Filipe Menezes), não quiseram (como Marques Mendes) ou não souberam (como Ferreira Leite) definir com clareza o espaço a ocupar. Passos Coelho deixou claro que o liberalismo lhe corre nas veias e que o caminho a seguir será ditado por essa opção. O líder do PSD sabe, contudo, que convém ser comedido - e, por isso mesmo, as medidas que apresentou estão longe de assustar o eleitorado mais volátil, aquele que decide eleições. Numa palavra, ficou claro que Passos Coelho tentará estrangular o CDS/PP (a reacção preocupada de Nuno Melo, representante do PP no congresso, foi sintomática), mas sem esquecer o famoso "centrão".
A evidência: a unidade que Passos Coelho reclamou (e se esforçou por promover) será passageira. O ADN do PSD convive mal (melhor: não sabe conviver) com a unidade durante muito tempo. Paulo Rangel disse o óbvio (unidade não é unicidade), mas, ao dizer o óbvio, quis dizer o que todos sabemos: quando chegar a altura, ele lá estará a marcar a sua posição. Morais Sarmento fugiu do batalhão: "Estas coisas da unidade fazem-me lembrar as plataformas de paz". Muitos preferiram ficar calados, mas é certo e sabido que barões e baronetes estarão atentos e vigilantes, à espreita das escorregadelas do novo líder. É um erro pensar que o poder conferido pelas bases a Passos Coelho chega para lhes travar o apetite. O início da queda, ou o empurrão definitivo, joga-se no palco mediático. Lembram-se da boa e da má moeda de Cavaco Silva?
O líder do PSD gozará do seu estado de graça. Tem que o aproveitar muito bem. Aproveitá-lo bem significa construir uma imagem de seriedade e "vender" com rigor e paciência o seu modo de ver o presente e o futuro de Portugal. Os primeiros passos foram correctos.