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A coligação Portugal à Frente venceu as eleições. Foi a expressão clara e livre da vontade do povo. Os portugueses entregaram a Pedro Passos Coelho e a Paulo Portas uma vitória com uma margem de segurança que não deixa dúvidas sobre quem deve ser chamado a formar Governo. É agora tempo de compromisso e de procura de um novo equilíbrio, num quadro que evidencia uma forte viragem do Parlamento à Esquerda, o manifesto desejo de mudança da política económica e de pôr termo à austeridade.
Mas os portugueses mostraram uma clareza ainda maior em relação ao PS. Foi o partido mais penalizado e Costa o rosto da derrota. Em boa medida, o PS é vítima de si próprio. Família desunida, o peso do ressentimento, o trauma de um ex-líder detido e entregue a si próprio, uma campanha errática e pouco profissional, e uma enorme dificuldade de propor futuro e semear esperança.
Com esta coligação no poder, os socialistas, com António José Seguro, tinham ganhado as autárquicas e as europeias. "Poucochinho", disse Costa, que interrompeu então um ciclo de vitórias. Desiludiu e bebe, agora, o cálice da amargura. Falhou em todas as frentes, a começar na unidade do seu próprio partido. Entre os socialistas já se teme que o taticismo e os negócios de bastidores precipitem o PS no risco de implosão.
Entre os vencedores, na coligação, é maior a vitória do CDS de Paulo Portas. Porque, apesar da perda (12) de mandatos conjuntos, relativamente a 2011, mantém exatamente o mesmo número de deputados, fruto da prévia negociação.
O Bloco de Esquerda é a novidade maior desta eleição, com o melhor resultado de sempre. Duplica os votos e o número de mandatos. E é, claramente, a terceira força parlamentar. Aqui, a vitória é jovem e tem o rosto de duas mulheres, Catarina Martins e Mariana Mortágua. Nos próximos dias, se o quiser, o Bloco pode ser a charneira de uma solução de governabilidade à Esquerda. Um discurso consistente e uma campanha que soube aliar o sonho à imaginação.
A CDU consolida a sua base eleitoral e aumenta ligeiramente a votação e o número de deputados. Mas não é propriamente um vencedor.
O voto dos portugueses evidencia, também, um novo Parlamento mais fragmentado. E entre as novas forças emerge agora o PAN, Partido dos Animais e da Natureza, que conseguiu eleger um deputado.
Neste quadro parlamentar, é a última oportunidade para o presidente da República exercer a sua tão propalada magistratura de árbitro. Porque os portugueses reclamam compromisso e Portugal precisa de soluções de governabilidade.
Nota negativa volta a ser o crescimento da abstenção, sinal de anemia democrática e de que o chamamento à cidadania e à participação continua a esmorecer. Mais de quatro milhões de portugueses, num universo de 9,6 milhões, ficaram à margem desta eleição. Entre eles, milhares de novos emigrantes que não puderam atualizar o recenseamento. É preocupante que o número de portugueses alheados da decisão eleitoral seja superior ao número de votos que hão de suportar o próximo Governo, seja qual for o arranjo que resultar das complexas negociações dos próximos dias. É inadiável a reforma do sistema político.
Hoje é 5 de Outubro. Viva a República!