Prioridade ao transporte público!
Um pouco por todo o país - e de forma particularmente evidente nas Áreas Metropolitanas do Porto e de Lisboa - a utilização do transporte público tem crescido de forma expressiva. É um sinal positivo do dinamismo económico, mas também o resultado direto de políticas públicas que têm surtido efeito: a redução significativa do preço dos passes, os passes gratuitos até aos 23 anos e o aumento da oferta e uma maior atenção às necessidades dos utilizadores.
No caso da Área Metropolitana do Porto, os números são claros! Desde 2022, o total de validações cresce acima dos 10% ao ano e, até outubro deste ano, regista-se já uma variação de 7,5% face ao mesmo período de 2024, tendo crescido, só neste mês, 1,5 milhões de validações.
Quem anda diariamente de autocarro, metro ou comboio sente bem essa mudança: veículos mais cheios, maior pressão no sistema e, em certos casos, dificuldade em encontrar lugar.
Resolver o problema não é, contudo, tão simples como dizer "ponham mais transporte na rua". No modo ferroviário, as margens de manobra são reduzidas: as linhas estão próximas do limite de capacidade e o material circulante existente está todo em operação, seja no metro ou no comboio.
A CP tem em curso um concurso para 117 novos comboios, que só começarão a chegar em 2029. A Metro do Porto também já encomendou 22 novos veículos, cuja entrega está prevista apenas para 2027. Ou seja, a resposta ferroviária será reforçada, mas não será imediata!
Resta, portanto, a solução mais rápida e pragmática: reforçar a oferta rodoviária. Colocar mais autocarros a circular é exequível num curto espaço de tempo e permite alargar a cobertura do serviço. Mas, há um "mas" decisivo: nada disto servirá se esses autocarros continuarem presos no mesmo trânsito que os carros particulares. Aumentar a frota para a condenar ao mesmo pára-arranca diário é não apenas ineficaz, como um desperdício de recursos públicos. E num momento em que a gratuitidade dos passes, anunciada - e bem -- pelo novo presidente da Câmara do Porto, fará crescer ainda mais a procura, ignorar esta realidade seria irresponsável.
É por isso urgente que as autarquias aumentem o número de corredores bus. Tal urge como prioridade política. Faixas dedicadas ao transporte público coletivo não são um capricho técnico; são a condição mínima para que o transporte público seja rápido, competitivo e fiável. São o que permite transformar o autocarro numa verdadeira alternativa ao automóvel - e, finalmente, convencer mais pessoas a deixar o carro em casa.
Sem esta prioridade clara, o reforço da sustentabilidade e da mobilidade ficam em causa: passemos à ação!

