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O INEM não tem helicópteros de socorro, mas a prioridade do Governo é gastar centenas de milhares de euros em armamento para ceder às pressões de Trump. Em plena crise da habitação, temos mais de 700 000 casas vazias em Portugal, mas a prioridade da Direita é criminalizar fortemente as ocupações, quando os casos existentes são cerca de duas centenas. As urgências obstétricas da grande Lisboa estão quase todas encerradas e, em todo o país, é cada vez maior a distância que uma grávida tem de percorrer para conseguir atendimento médico, mas a prioridade dos “amigos da família” da AD, foi tentar apagar da lei o conceito de violência obstétrica.
Ao que parece, em vez de enfrentar os problemas da saúde e da habitação, verdadeiramente preocupantes para a maioria dos portugueses e com tendência para o agravamento, o Governo tem como prioridade aproximar-se do Chega, em quase tudo, mas principalmente na agenda anti-imigração. Este é um país que precisa de mão de obra, mas rejeita aqueles que querem vir trabalhar. Rejeita as suas famílias e a possibilidade de que as suas próximas gerações sejam portuguesas, falem português, frequentem a escola. Este é um país de velhos, que rejeita aqueles que poderiam renovar a nossa população e que, ao mesmo tempo, destrata as mães, devotando-as ao descaso, à violência, ao desemprego, à exaustão.
Este é um país que não dá a assistência devida durante a gestação, que não garante maternidades abertas, que tem demasiados profissionais desatualizados e com práticas desaconselhadas pela OMS (como episiotomias e manobras de Kristeller), que tem uma classe médica que nem sequer admite a existência de violência obstétrica, mesmo perante milhares de queixas e relatos traumáticos. Um país em que tantas mulheres perdem o emprego durante a gravidez ou logo após a licença de parentalidade, mesmo que seja ilegal e ainda que esta não chegue sequer aos seis meses (o período mínimo aconselhado pela OMS para o aleitamento materno exclusivo).
Um país em que as mulheres trabalham muito mais horas por semana em trabalho doméstico, em que ganham menos, em que são despedidas primeiro, promovidas em último e com menos horizonte de ascensão na carreira, mesmo com mais qualificações. Um país em que a violência doméstica mata, mutila e destrói gerações e gerações de mulheres, deixando seus filhos órfãos, traumatizados, em perigo. Um país muito seguro, menos dentro de casa.
Para esses pseudo-patriotas, deveria ser um desígnio nacional dar condições de segurança às mães e mulheres deste país, dar-lhes garantias de assistência médica, de habitação e sustento, assim como de proteção em caso de perigo. Mas enquanto esbracejam muito e apontam para os mais desamparados como o bode expiatório da vez, não ouvem o choro desesperado das mães. É hora de começarem a ouvir os gritos de fúria!