Produtividade: o tema que Portugal continua a adiar
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Portugal tem discutido salários, impostos, exportações e crescimento, mas raramente fala do que está no centro de todos esses debates: a produtividade. Sem produtividade, não há aumentos salariais sustentáveis, nem competitividade duradoura. E é precisamente por ignorarmos este tema que continuamos a crescer menos do que poderíamos.
A produtividade é o verdadeiro motor do desenvolvimento económico, mas em Portugal esse motor tem funcionado a meio gás. Produzimos menos por hora do que a média europeia e há duas décadas que essa diferença praticamente não muda. O problema não está apenas nas empresas, está, isso sim, na forma como o país organiza o trabalho, o Estado e a economia. A baixa produtividade resulta de um ecossistema que penaliza a ambição, recompensa a sobrevivência e desincentiva a inovação.
As causas são conhecidas, mas continuam por resolver: uma burocracia pesada que consome tempo e energia; empresas pequenas, fragmentadas e sem escala; um sistema fiscal complexo que não distingue quem arrisca de quem se acomoda; e uma falta crónica de investimento em formação e tecnologia. Cada um destes fatores é uma âncora que trava o potencial das empresas e das pessoas.
Subir salários é essencial, mas só será possível se aumentarmos o valor criado por cada hora de trabalho. Isso implica qualificação, digitalização e melhores práticas de gestão. E implica, também, uma política fiscal que premeie quem investe em inovação, automatização e capacitação, em vez de castigar quem tenta crescer. Ao mesmo tempo, implica que o Estado simplifique, que confie e que devolva tempo às empresas, porque tempo é também produtividade.
É igualmente necessária uma reforma laboral moderna, que promova flexibilidade com segurança e alinhe os ganhos de produtividade com a valorização do trabalho. A competitividade de um país não se constrói à custa de quem trabalha, mas através de um equilíbrio inteligente entre o capital, o talento e a inovação.
A produtividade não é apenas uma questão técnica, mas sim uma questão de cultura económica, pois um país produtivo é aquele onde as empresas colaboram, onde o mérito é recompensado e onde o Estado é parceiro, não obstáculo. Portugal precisa de mudar o foco do debate para "menos horas trabalhadas, mais valor produzido".
É tempo de colocar a produtividade no centro das políticas públicas e das decisões empresariais, pois a sua ausência é o maior entrave ao desenvolvimento, e a sua conquista é a chave para crescermos de forma justa, ambiciosa e sustentável.
Porque, no fim, produtividade é liberdade económica: é o que nos permite pagar melhor, competir melhor e viver melhor.

