1. Elisa Ferreira formalizou a sua candidatura à presidência da Câmara Municipal do Porto. Reuniu os seus na Alfândega, ouviram-se declarações de amor à cidade. Mas também ficou claro que, antes disso, vai garantir a renovação do seu lugar de eurodeputada. Presume-se portanto que a paixão em relação ao Parlamento Europeu também seja grande, embora talvez não chegue a ser "até à medula", como se diz ser no caso da Invicta. Só que o PSD, rápido a reagir, chamou-lhe outra coisa: "oportunismo político" e "vontade de ocupar um cargo qualquer".
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Na verdade, quem providenciou as munições ao adversário foi a própria Elisa Ferreira, quando disse que, a ser eleita para a presidência da Câmara, abandonará o lugar em Estrasburgo. Ou seja, só quando garantir um segundo cargo tratará de abandonar o primeiro. Ao jeito de, mais vale um pássaro na mão do que dois a voar... E portanto não se poderá queixar senão de si própria se esta "falta de respeito pelo Porto", ainda para citar o PSD, se transformar em tema recorrente da campanha que se avizinha.
Questão diferente é saber, para além do ruído de fundo, se isso a diminui perante a candidatura de Rui Rio. E a resposta é obviamente negativa. O que a decisão de Elisa Ferreira confirma é que ela é uma profissional da política. Anteontem deputada, ontem ministra, hoje eurodeputada, amanhã logo veremos. Tal qual Rui Rio, anteontem deputado, ontem secretário-geral do PSD, hoje autarca, amanhã potencial candidato a líder do PSD.
2. Servirá para alguma coisa investir na formação de "doutores" se não há trabalho para eles? Para que serve um "canudo" se o melhor que se consegue arranjar é um lugar como caixa de supermercado? São algumas das perguntas que se podem fazer quando se observa a assustadora tabela de produção de desempregados das nossas universidades [página 2]. Que chega a ser chocante, quando se sabe, por exemplo, que a área do Direito é uma das mais saturadas (1237 desempregados) e, não obstante, o contingente de novos alunos não só se mantém elevado de ano para ano, como vai aumentando. Em nome da garantia de financiamento estatal que alimente um corpo docente com dimensão e regalias que já não se justificam. Uma burla a que é preciso pôr fim. No Direito, como na Psicologia, na Economia ou na Gestão.
Mas se as perguntas iniciais são legítimas, outras conclusões, de sentido inverso, podem ser igualmente poderosas. Porque dizem as estatísticas que um desempregado com formação superior encontra emprego mais depressa do que os outros. E porque nos diz o senso comum que é sempre melhor ter alguma formação, por inútil que aparente ser, do que nenhuma. Sempre permite ambicionar a algo mais do que permanecer na caixa de um supermercado durante toda a vida.
