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António Costa foi ontem o anfitrião da segunda cimeira dos países da Europa do Sul, que reuniu chefes de Estado e de Governo de Chipre, Espanha, França, Grécia, Itália, Malta e Portugal. É bom que tenham vindo. Melhor seria se o encontro tivesse servido para alguma coisa, para lá da retórica: esta claque de sete, num clube de 28, concorda na necessidade de uma União forte, capaz de devolver a esperança aos cidadãos e combater populismos; e que está pronta para iniciar as negociações com vista à saída do Reino Unido, desejando embora que o sócio desavindo se mantenha como "um parceiro próximo".
Sem outras conclusões à vista, o momento crucial até poderia ser marcado para 25 de março, a cimeira europeia que assinala os 60 anos do Tratado de Roma, naquela que é considerada a derradeira oportunidade para salvar a União e retomar a dinâmica de cooperação e convergência. Acontece que, até ao fim do ano, há eleições em pelo menos três dos países fundadores - Holanda, França e Alemanha - e ninguém quererá antecipar as decisões que se impõem. Até lá, o projeto europeu suspira e definha nos cuidados intensivos. E, à cabeceira do enfermo, o doutor há de limitar-se a dizer que a situação é crítica e o prognóstico muito reservado.
A perda de relevância, o ambiente de desintegração política e o risco de colapso são o resultado dos anos da crise económica. Mas, acima de tudo, da falta de respostas às necessidades reais das pessoas. E isto acontece num contexto externo cada vez mais adverso, no qual a União Europeia se tornou um ator sem peso nem personalidade própria. A crise migratória, interminável na sua dimensão e no número de vítimas, é o melhor exemplo de como a debilidade dos 28 países acaba por forçar os europeus a aceitarem compromissos incompatíveis com os princípios e valores que afirmam defender.
Os propósitos anunciados há pouco pelo presidente da Comissão Europeia de relançar a economia através de um plano de investimentos, completar a integração das políticas de imigração, acomodar o Brexit e relançar a política de defesa comum são louváveis, mas já cansam tanto como a mais repetitiva das cassetes. Porque ninguém decide, para além de Mário Draghi, o banqueiro, com o BCE transformado na última trincheira que nos separa do abismo. O verdadeiro desafio de Juncker e dos que o apoiam - conservadores, liberais e socialistas - não é explicar que Europa precisamos, mas as razões por que parece impossível sustentá-la. A fraqueza desta União não está na falta de ideias, mas na incapacidade de as concretizar.
*DIRETOR