<p>Indefesas, as crianças portuguesas estão à mercê desse autêntico veneno social que é a publicidade infantil. Com um patamar assustador de 26 mil mensagens publicitárias por criança por ano, o negócio atingiu dimensões inimagináveis. Brinda-nos com o convite sistemático ao consumo de comidas pouco saudáveis e à compra de brinquedos agressivos, que acaba tendo por corolário a generalização de maus hábitos alimentares e de comportamentos violentos. O seu principal veículo é a televisão e a sua eficácia é o resultado das cerca de 25 horas que os miúdos passam por semana em frente ao pequeno ecrã. São cerca de três horas por dia, mais do que convivem com os pais, os irmãos ou os avós.</p>
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Diversos estudos académicos atestam que crianças até aos 12 anos não distinguem sequer entre comunicação publicitária e outras formas de comunicação, absorvendo de imediato todas as mensagens e assumindo-as como verdadeiras. A receita adoptada é mágica e infalível: anúncios com uma personagem ou mascote, uma pequena história, música envolvente a condizer. A estes acrescentem-se as acções de product placement, com colocação de produtos comerciais nos cenários dos filmes, e o convite ao consumo de flocos ou sumos por parte dos protagonistas das séries.
A piorar a situação, temos o facto de serem mais permeáveis à comunicação publicitária as crianças que convivem menos, e também por isso vêem mais televisão, e as de meios socioeconómicos mais desprotegidos. Imaginemos pois a angústia do pai que, já asfixiado financeiramente, se vê coagido a comprar o brinquedo da moda, cujo preço representa um terço do seu salário. Cede, uma vez que não consegue defender os filhos da coacção psicológica que a publicidade massiva representa. Esta pressão será, aliás, particularmente gravosa na época de Natal que se avizinha, quando só a venda de brinquedos atingirá previsivelmente o valor - verdadeiramente obsceno para um país pobre - de 200 milhões de euros.
Atenta a este fenómeno, a maioria dos países europeus interdita toda a publicidade direccionada a crianças com menos de 15 anos. Ao contrário de cá, onde impera a lei da selva e se sacrificam as crianças no altar da publicidade. E assim se hipoteca, mais ainda, o nosso futuro.
Só a imediata proibição da publicidade infantil poderá evitar, já in extremis, que as crianças se transformem, amanhã, numa geração de marionetas meticulosamente manipuladas, o homo consumus português.