Os treinos foram tão pobres em propostas, tão despidos de ousadia, que a adesão à segunda mão da eliminatória foi ainda mais baixa do que na primeira. Apesar do reforço atacante do PP liderado por Mariano Rajoy no final do tempo regulamentar, mantém-se o impasse e o jogo segue para prolongamento. Com os politólogos a considerarem insustentável que o embate se arraste até aos penáltis, os olhos estão postos no PSOE, que poderá ter o papel decisivo na definição de um acordo que evite uma terceira eleição em Espanha.
Quando, hoje à tarde, a seleção de Espanha entrar em campo, o entusiasmo será seguramente maior do que o conseguido na segunda ida dos espanhóis às urnas em apenas meio ano. A abstenção foi uma das mais elevadas de sempre, sinal de que os eleitores estão cansados da incapacidade de entendimento demonstrada pelos seus políticos e da polarização verificada na campanha.
Às primeiras projeções, Pablo Iglesias teria motivos para cantar vitória, já que a coligação Unidos Podemos parecia ter conquistado uma liderança inédita da Esquerda. A contagem dos votos foi desfazendo esse cenário e recolocando os socialistas no segundo lugar, tal como em dezembro.
Mariano Rajoy tentou, nas vésperas das eleições, capitalizar os efeitos do Brexit a seu favor, apelando à estabilidade e dizendo que este não é o momento para "aumentar a incerteza". Conseguiu reforçar o número de deputados comparativamente com as últimas eleições, mas não o suficiente para assegurar uma maioria que dispense a entrada do PSOE na equação. Em contrapartida, também o Unidos Podemos falhou o objetivo de alcançar o segundo lugar e desafiar os socialistas para um acordo.
Com a ameaça de sanções de Bruxelas à espreita, o impacto do futuro Governo no Conselho Europeu merece toda a atenção de Portugal. Rajoy representa a defesa da corrente pró-austeridade. E assegura igualmente, ao nível interno, a possibilidade de travar a aspiração da Catalunha a um novo referendo pela independência. Resta saber se o movimento que já está a ser ensaiado pela Escócia não será suficiente para impor esse debate.
O terceiro lugar pode conter os receios de quem julga arriscado entregar o poder ao eurocético Podemos. Mas o crescimento da coligação de Esquerda não deve ser ignorado. A Europa agita-se, vive tempos de incerteza. E mais do que nunca o peso de cada país conta para decidir como fica a frágil manta de retalhos europeia.
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