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O primeiro-ministro, ou o secretário-geral do PS (começa a ser difícil distinguir em que qualidade fala José Sócrates quando saca do bolso mais uma ou outra promessa), garantiu este fim-de-semana que criará, para os mais jovens, mil empregos nas instituições de solidariedade social e que apoiará "as famílias de menores rendimentos para que, através de uma bolsa, os filhos possam permanecer 12 anos na escola". Parecem boas iniciativas, sobretudo quando sabemos já que os próximos anos nos continuarão a trazer abanões provocados pela crise.
Cada um de nós dará à conversa de José Sócrates o crédito que muito bem entender. Uns acharão que é conversa fiada; das bocas de outros saltarão encómios à(s) iniciativa(s). O mesmo se aplica ao anúncio feito ontem: se for primeiro-ministro na próxima legislatura, o líder do PS não baixará os impostos.
O facto é que, bem ou mal, com mais ou menos propaganda, vamos ficando a conhecer o que é que o PS pensa - e, mais importante, o que pensa fazer - sobre o futuro próximo do país. E essa é, em bom rigor, a única forma que temos de avaliar o partido, por forma a decidir o sentido do nosso voto. Verdade que, no caso do PS, ainda temos que incluir na equação a acção do Governo. O que facilita a tarefa.
Bem diferente é a estratégia adoptada pelo PSD. Anteontem, em Vila Real, Manuela Ferreira Leite, guardiã da política da verdade, atirou-se às canelas de Sócrates: "Não só não tem vergonha (das promessas que fez e não cumpriu) como ainda por cima agora anuncia outras tantas promessas para depois não cumprir, caso ganhe as eleições. Se houvesse alguma ponta de vergonha naquilo que os políticos não devem fazer, esta devia ser uma delas".
A frase encerra três factos curiosos. Ferreira Leite já sabe que Sócrates está a anunciar promessas que não cumprirá. Não se lhe conheciam estes dotes de adivinhação. Ferreira Leite fala dos políticos como se se tratasse de um classe impura (digamos assim) à qual ela não pertence nem deseja pertencer. Por fim, Ferreira Leite fala das promessas que Sócrates não cumpriu - mas não aponta nenhuma delas. E, muito mais importante do que isso, sem as contrapor, sem dizer o que faria ela caso estivesse no lugar do primeiro-ministro.
Se bem se recordam, a líder do PSD começou assim o seu mandato: calada. Depois, perante a evidência do erro, desatou a falar. Agora, parece querer voltar aos tempos em que ninguém lhe conseguia puxar uma ideia. Ora é de ideias e de propostas que se faz o debate político. O contrário não é sério. Não basta ditar de cátedra meia-dúzia de lugares-comuns sobre a virtude da moral e dos bons costumes para construir um programa político. Manuela tem um? Fará ela o favor de o mostrar aos indígenas? Ou teme que os índígenas se assustem?