Estava escrito que PS e CDS negociariam. Antecipei-o aqui: a campanha dos centristas lançou muitas pontes. Inicialmente, para acalmar a sua ala esquerda, o Governo optou por ignorar a alternativa apresentada pelos populares para a carreira dos professores do Secundário. Tudo indica que fez mal, acabando por fechar um acordo mais caro, e menos sólido, do que o que decorria da proposta de Portas. Mas ei-los que negoceiam. Esperemos que não por mero oportunismo táctico do qual só pode decorrer mais despesa e menos receita. Na verdade, este Orçamento só faz sentido enquanto peça de uma estratégia de médio prazo de ataque aos problemas fundamentais que o país enfrenta, articulando medidas de curto prazo com outras decisivas para debelar as maleitas estruturais.
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Por isso, talvez não seja pior que o PS se cruze, para começar, com o partido de que está ideologicamente mais longe, dado que a radicalização do PC e BE os põe fora deste jogo (talvez não por acaso, Alegre veio dizer que está disponível para considerar a candidatura a presidente da República, conglomerando a Esquerda, precisamente quando o PS descartava conversações à sua esquerda).
Um pano de fundo do médio prazo não retira espaço para que o Orçamento contenha algumas medidas que, conquanto simbólicas, dariam um sinal de que o ataque à crise exige o empenhamento e o sacrifício de todos. Não falo da necessidade de cortar despesa, onde o serviço público pode ser cumprido, com vantagem, pelo sector privado. Nem sequer do congelamento dos salários reais dos funcionários públicos, uma boa moeda de troca para quem tem emprego garantido. Falo, por exemplo, do aumento da tributação das mais-valias bolsistas, em operações a menos de um ano. Ou de um imposto de solidariedade, a incidir sobre os rendimentos tributáveis acima de um certo nível (100 mil euros?). Destinado a acções de solidariedade social, mas permitindo a quem fosse tributado designar a instituição para a qual deveria ser encaminhado. Ou, ainda, do corte nas pensões acima de cinco mil euros, como forma de financiar parcialmente o aumento das pensões mais baixas. Algumas destas medidas afectariam, prioritariamente, os eleitores do CDS. Será um bom teste para saber se o seu empenhamento nas questões sociais vai para além do populismo.
A carga fiscal é alta. Conter e cortar despesa é prioridade. Contudo, talvez haja uns impostos mais impostos do que outros.
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