Providence, Estado de Rhode Island, Estados Unidos da América. 6 de Junho. Parada do dia de Portugal. Muitas centenas de pessoas, vindas de várias localidades do Estado, desfilam pelas ruas da cidade. Bandas de música, ranchos folclóricos, representações de clubes recreativos e sociais. Carros alegóricos de actividades tradicionais, desde as vindimas ao vinho da Madeira. Não faltam as habituais "misses" ou não estivéssemos na América. A parada é uma prova da vitalidade de uma comunidade laboriosa, respeitada no Estado, orgulhosa das suas raízes. Não andaremos longe da verdade se dissermos tratar-se de um exemplo da emigração tradicional que subiu na vida pela determinação e capacidade de trabalho e não tanto pelas habilitações que possuía. Gente a quem a necessidade ou a ambição empurrou para fora da sua terra - quem troca o certo pelo incerto motivos há-de ter, cantava Adriano Correia de Oliveira. Tal como parece estar, agora, a acontecer com uma geração de gente jovem mas, desta vez, qualificada. O Observatório da Emigração fala de uma fuga de cérebros. Um exagero? Em qualquer caso parece indubitável que o saldo, no topo da pirâmide educacional, é negativo: são cada vez mais os jovens licenciados que procuram fora do país o emprego que cá não encontram. Mais de meio século depois repete-se a saga da emigração mas, desta vez, envolvendo portugueses qualificados que se sentem em casa no mundo e "votam com os pés". Jovens a quem não falta iniciativa ou ambição, mas desesperam no seu país.
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Não obstante todo o esforço de investimento na Educação, Portugal continua a ter apenas a Turquia atrás de si entre os países da OCDE. Continuamos a ter uma estrutura de qualificações com demasiada gente na base da pirâmide. Tanto mais excessiva quanto os outros países têm andado mais depressa e o mundo se globalizou. Os baixos rendimentos que auferem reflectem esse facto. Houve quem progredisse e se tornasse capaz de executar tarefas mais complexas. Paralelamente, para os empregos menos qualificados, há uma oferta crescente, disposta a trabalhar por salários que nos parecem baixos, proveniente de países entretanto chegados ao mercado internacional. A nossa disparidade de rendimentos expressa essa situação de uma outra maneira: muitos entre nós estão confinados a um mercado cada vez mais local, mas que reflecte a pressão do jogo competitivo mundial; no outro extremo, há uma elite que se pode medir pela bitola do mercado internacional. Ou que, pelo menos, o proclama. Num país assim, não ter sido capaz de gerar uma dinâmica económica suficiente para evitar a repetição da tragédia da emigração, desta vez de uma juventude qualificada, é, porventura, o atestado mais duro das limitadas capacidades de muitas das nossas elites. Hoje, como antes, fica tudo entregue à divina providência. "Providence".