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Circulou, por estes dias, um vídeo de Passos Coelho - já como líder da Oposição - a chamar a atenção para a deriva do PS em relação às leis da imigração. Previdente, o antigo primeiro-ministro avisava para os riscos de uma política de portas abertas, que quebrava um consenso há muito implementado no país e com resultados positivos conhecidos.
Inebriada, primeiro pela geringonça, depois pela maioria absoluta, a cúpula do PS fez vista grossa à questão. Todas as críticas eram despachadas com o labéu do extremismo, aproveitando o crescimento eleitoral do Chega para polarizar cada vez mais o discurso e impedir qualquer tentativa de consenso, ao centro, em matéria de migrações. A própria extinção do SEF e substituição pela AIMA contribuiu para essa agenda, abdicando de um know-how de décadas nos processos de fiscalização.
Nas margens, contudo, os problemas foram surgindo. Entre 2017 e 2020 - tendo atingido o pico nesse ano - as contraordenações por permanência ilegal no país cresceram 160%. A população estrangeira residente - embora muito necessária à economia - mais do que duplicou nos últimos seis anos, ultrapassando a fasquia do milhão de pessoas, com os consequentes desafios de integração social que se colocam. De acordo com o RASI 2023, os crimes de tráfico de pessoas e auxílio à imigração ilegal dispararam, com acréscimos superiores a 150 e 300%, respetivamente.
Tudo isto era tratado com sobranceria por parte do PS e dos partidos à sua esquerda, desdenhando do fim da manifestação de interesse e da tentativa do atual Governo estancar a hemorragia dos processos de regularização. Até que surgiu o Martim Moniz. E surgiu o estudo da FFMS, com 70% das pessoas a pedirem regras para a entrada de estrangeiros. E surgiram os primeiros alertas de autarcas socialistas. Subitamente, os ares do tempo mudaram e Pedro Nuno Santos percebeu-o, forçando-se a aplicar uma pirueta no discurso oficial do partido sobre estas matérias.
Embora tardia, saúda-se a racionalidade do líder socialista e a humildade de reconhecer que o seu partido não fez tudo bem. Resta, agora, ser consequente e promover um acordo amplo sobre política de migrações, que mantenha Portugal um país acolhedor e disponível. Mas onde também há regras e leis a que todos devem obedecer.