<p>O PSD já tem candidatos. Mas será o PSD, ele próprio, candidato? Esse o problema. As várias gerações políticas do partido não conseguiram encontrar, ainda, o ponto de Arquimedes orientador, para afirmar a antiga "laranja mecânica" no pós-cavaquismo. E o pós-cavaquismo, com todas as suas ambiguidades, contradições, oportunidades e impossibilidades, é o período que o PSD ainda vive, desde 1996.</p>
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Passos Coelho (para começar pelo princípio), lançou-se contra o deserto. Se fosse mais velho e mais feio, não teria a audiência que, evidentemente, tem. Mas os adversários cometem um grave erro, ao reduzi-lo apenas à imagem, assim aconteceu como os cépticos de Sócrates, minimizando o actual primeiro-ministro como ruído ocasional, de moda.
Passos reúne, no discurso e na imagem, os motivos de justicialismo irrequieto, populismo de autoridade, e o tom geral de "partido de bases e raízes", típico deste continente.
Faltar-lhe-á consistência, profundidade, clareza, e conselheiros à altura, ou não maculados por pequenos desejos de vingança, regresso e reafirmação. Mas é um valor evidente.
Paulo Rangel, depois da bizarra denúncia de Estrasburgo (misto de infantilidade e improviso excessivo), reentrou na órbita nacional como um forcado, mas num quadro forçado. Jurou rupturas, e futuro, e uma saída da noite em que vivemos, mas fez tanto sentido como a declaração melodramática de Mário Soares O Velho, quando anunciou a sua recandidatura a Belém.
Claro que Rangel é uma figura estimável, ilustrada, trabalhadora, que não desiste perante as dificuldades. Mas é, em demasia, filho da conjuntura. Para o PSD, a não ser que se queira mais um líder interino, requer-se algo mais do que um chefe circunstancial. Procura-se uma cabeça, e não uma cabeceira.
Aguiar-Branco tem também virtudes conhecidas, como conhecedor medieval, líder parlamentar e bombeiro voluntário de situações difíceis. Mas é tão empolgante como um filme de Manoel de Oliveira. Precisamos de tempo para o degustar. E não há tempo.
Precisamos de tempo para o decifrar. E, decifrado, o público pode já não se lembrar da razão da decifragem.
Isto, claro, é só o começo. Haverá novidades, e novos candidatos, e velhos ex-candidatos. E que ninguém desespere. Em política, recordo, o desespero é sempre uma estupidez.