<p>A campanha do PSD segue em tom penoso, sem chama, e com o partido em perda evidente, falando de um país em que, creio eu, poucos se reverão: um país onde "uma televisão foi silenciada" (erro: foi um noticiário que mudou), um "director de um jornal de referência escutado" (mentira, as escutas que o director do "Público" quis fazer crer que o tinham como alvo já foram desmentidas, até pelo próprio) para se chegar ao cúmulo de uma "asfixia democrática" que mal se compagina com visitas elogiosas à Madeira e felicitações a Alberto João Jardim. O PSD, por muito que o queira negar, desdenhou as próprias forças, colou-se demasiado a Belém, apostou forte nesta tese e, a uma semana do fim da campanha, a tese esboroa-se porque de Belém, de onde menos se esperaria, veio o erro fatal. </p>
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De Cavaco, afinal o grande inspirador da caminhada de Manuela Ferreira Leite, veio o gesto que porventura matará as aspirações do PSD. E tudo em silêncio, sem uma justificação, sem uma palavra e sem que, entre os sociais-democratas, apareça alguém com outra tese (o perigo de uma aliança com o BE é frágil), com uma ideia inspiradora que possa levar o partido até às urnas com a mesma confiança que acalentava desde o final das Europeias, e que contrarie com eficácia o óbvio aproveitamento que o PS vai fazendo da situação.
A caminhada penosa que vai levar o PSD até às urnas só tem paralelo com o silêncio de Cavaco Silva, comprometido com os graves acontecimentos políticos revelados pelo DN na sexta-feira passada.
Fernando Lima não era um assessor qualquer. E não era, por trabalhar com Cavaco Silva há mais de 20 anos, em concreto, desde 1985. Desde sempre, desde que Cavaco começou a ser alguém na política, a seu lado estava Fernando Lima. E não estava por estar. Estava por convicção e por uma amizade que se foi cimentando entre os dois. Quem nos jornais lidava com Fernando Lima sabia bem o que ele representava junto de Cavaco Silva, o que já representara no Governo, o que era agora em Belém. Lima já não era apenas um assessor, porventura o mais importante de todos. Era bem mais do que isso. Ele e o presidente sempre estiveram juntos, nutriam amizade um pelo outro, chegaram ao cúmulo da confiança de ter escrito ao mesmo tempo as suas memórias, cada um em sua função, é certo, mas com Lima a contar o que em certa medida Cavaco não podia fazer, completando-lhe, assim, discretamente, a sua própria memória.
Discretamente é um advérbio que se aplica bem ao assessor agora despedido de Belém, pois era dessa forma que sempre cuidava de aplanar o caminho que o seu "chefe" ia pisando. A sua demissão foi um choque. Quem conhece um e outro sabe o que este corte significa. E é por isso que mal se entende que Fernando Lima tenha saído de Belém sem uma palavra, apenas com uma fuga de informação para a Lusa dando conta da demissão e com um "refresh" no site presidencial que limpou num segundo o seu nome do rol dos que colaboravam com o presidente.
Que Cavaco não fale sobre as escutas, sobre a questão política, é grave. Todos temos de saber da sua boca se o Palácio de Belém se enlvolveu na criação de um clima que denegrisse o Governo ou se se tratou de um acto isolado do assessor e desconhecido do presidente. Que nada diga sobre isto, é muito grave e comprometedor. Que não tenha tido uma palavra sobre o seu assessor, este assessor, é, apenas, feio.